No dia 22 de Outubro, há 40 anos, o Teatro Nacional D. Maria II abria as portas para dar a conhecer a então Orquestra de Câmara Gulbenkian, a propósito das comemorações do centenário de Claude Debussy.
Foi com 13 elementos que a Orquestra de Câmara Gulbenkian nasceu, estávamos em 1962, a 22 de Outubro, dia em que pela primeira vez actuou em público.
O Palco foi o Teatro Nacional D. Maria II, a propósito das comemorações do centenário de Claude Debussy. O ideal consistia em dotar a vida musical portuguesa de um conjunto instrumental que difundisse a música por todo o país, incluindo no repertório obras desconhecidas ou raramente ouvidas e composições de autores portugueses.
Por outro lado, pretendia-se dar oportunidade a que os elementos se pudessem dedicar exclusivamente à prática instrumental, o que nos anos 50 e 60 não era fácil para um músico em Portugal.
Estes 12 elementos, (o 13º da estreia era um cravista convidado), começaram por ser orientados pelo maestro Gunther Arglebe, embora este nunca a tivesse dirigido publicamente, o que viria a acontecer com Lamberto Baldi.
Seguiu-se depois o caminho para o sucesso, começando por colaborar com o Grupo Experimental de Ópera, intervindo nas produções de Livietta e Tracollo, de Pergolesi, e o Telefone, de Menotti.
Em Julho de 1963 inicia uma série de concertos (Lisboa, Viseu, Espinho, Santo Tirso, Figueira da Foz e Aveiro) designados por «Jornadas Musicais», estendendo-se no ano seguinte às ilhas, então sob a direcção do Urs Voegelin.
Em seguida começou a incluir no repertório, o Requiem de Mozart, o Messias de Haendel, o Gloria em Ré maior de Vivaldi, o Stabat Mater de Dvorak , o Magnificat de J. S. Bach, o Magnificat de Vivaldi, e autores portugueses como João Domingos Bomtempo, de quem apresentou, em primeira audição moderna, o Requiem - À Memória de Camões.
Dos treze músicos que a constituíam inicialmente, passa para dezanove em 1964, e em 65 a Orquestra contava com 26 instrumentistas, cinco dos quais de sopro.
Na primeira década de actividade, o agrupamento concentrou-se no repertório Barroco, incidindo particularmente na música de Bach, Vivaldi, Haendel, Corelli e Pergolesi, embora tenha sempre dado grande atenção à música contemporânea.
Paralelamente à sua actividade regular de concertos em Portugal, o agrupamento realiza em 1965, para a editora Philips, o seu primeiro registo fonográfico, que reúne música para orquestra de compositores portugueses dos séculos XVIII, dirigida por Renato Ruotolo, o que lhe permitiu conquistar, em 1967, o galardão da Académie du Disque Français.
Em 1969, a Orquestra retoma as gravações de música portuguesa, registando para a Archiv obras instrumentais de Leal Moreira, Marcos Portugal, Sousa Carvalho, entre outros, e um segundo disco, desta vez para a Philips, com a ópera de Francisco António de Almeida La Spinalba ovvero Il Vechio Matto, o qual seria distinguido, com o Grand Prix da Académie National du Disque Lyrique.
A juntar às anteriores distinções, mais dois galardões internacionais (Grand Prix du Disque da Académie Charles Cros) ornavam o currículo da Orquestra neste período, atribuídos à gravação da oratória Jephte, de Carissimi, sob a direcção de Michel Corboz.
Na segunda década, houve uma transição, o agrupamento contava já com 37 músicos e, consequentemente, a sua designação seria alterada, passando, a partir de Outubro de 1971, a denominar-se simplesmente Orquestra Gulbenkian.
Os anos setenta revelam um agrupamento com uma actividade já bastante consolidada, iniciava-se a gravação da série de concertos para piano de Mozart com Maria João Pires como solista, sob a direcção de Theodor Guschlbauer, para a Erato.
Dirigida por Gustav Kuhn, e com Gerardo Ribeiro como solista, a Orquestra Gulbenkian deslocou-se à então União Soviética, em 78,sucedendo-se uma série de deslocações ao estrangeiro que iriam constituir a definitiva internacionalização da Orquestra Gulbenkian.
Nos anos 80, a Orquestra Gulbenkian atinge a constituição que actualmente se conhece, 60 elementos.
Já em 2000, para a Teldec registou dois concertos para guitarra (de Tan Dun e de Cristhoper Rouse), com Sharon Isbincomo solista, disco que conquistou dois importantes prémios internacionais: um Grammy, na categoria de «Melhor Composição Contemporânea» (Concerto de Gaudí, de Rouse), e o Echo Klassik, na categoria de «Melhor Solista de Concerto».
Na década de noventa, a ausência em Portugal de uma programação regular e consistente do grande repertório sinfónico, levaria a Orquestra a chamar a si um
repertório sinfónico romântico.
Pelas mãos do maestro Lawrence Foster, a Orquestra Gulbenkian entra agora na quinta década de existência, e pela primeira vez um maestro vai acumular as funções de maestro titular e director artístico, o que lhe dará total responsabilidade por este agrupamento de prestígio internacional, e em quem a Fundação confia para fazer o que falta.