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Filme «não faz justiça» ao romance de Eça

«O Crime do Padre Amaro» não faz inteira justiça ao romance homónimo de Eça de Queirós e fica aquém da dimensão artística do romance em que se baseia. Quem o diz é um dos maiores especialistas queirosianos portugueses, Carlos Reis.

Carlos Reis descreve assim as suas impressões do filme do realizador mexicano Carlos Carrera, a cuja ante-estreia assistiu na quinta-feira passada, em Lisboa.

O ex-director da Biblioteca Nacional divide a sua apreciação em várias perspectivas. Como cinéfilo, a película com argumento de Vicente Leñero, parece-lhe « honrada, decente e bem contada, com adequada direcção de actores e quase tudo o mais que contribui para que uma fita se veja com agrado».

No entanto, esta fica «aquém da dimensão artística do romance em que se baseia» se for olhada com uma visão «queirosiana».

A transposição da acção para o nosso tempo, no entender do especialista, contribui para isso, até por trazer para a cena temas e problemas decerto importantes no México, mas totalmente estranhos ao universo queirosiano.

«É o caso do narcotráfico, da lavagem de dinheiro e da guerrilha. Por outro lado, fico com a sensação de que o realizador cedeu a certos efeitos fáceis, na criação de focos de polémica, próximos de um chocante que o próprio Eça tratou de anular quando escreveu o romance», sustenta, considerando que «é simpático que lá no México alguém conjugue o cenário da guerrilha e do narcotráfico com a história dos amores de Amaro e Amélia.

Redação