A carreira literária de José Saramago começou com a publicação do romance «Terra do Pecado», em 1947, reeditado cinquenta anos depois.
O título desta primeira obra foi imposto pelo editor já que o autor preferia que tivesse sido «A Viúva», porque aos 25 anos de idade parecia-lhe que pouco sabia de pecados. Talvez por detestar o nome do livro, e certamente por ter deixado de se rever nele, Saramago não o reconhece como parte da sua obra.
Persuadido de que afinal não tinha grande coisa a dizer ao mundo, permaneceu silencioso durante quase 20 anos. A sua publicação seguinte foi «Poemas Possíveis», em 1966 que, tal como o título indica, se tratava de um livro de poesia. O Nobel português da Literatura fez novas incursões no género poético no ano de 1970, com «Provavelmente Alegria», e em 1975, com «O Ano de 1993".
O teatro e o ensaio
Apesar das quatro peças de teatro editadas e encenadas, Saramago não se considera um dramaturgo, mas contribuiu para o género dramático com os seus livros «A Noite», de 1979, «Que Farei Com Este Livro?», do ano seguinte, «A Segunda Vida de Francisco de Assis», em 1987, e «In Nomine Dei», escrito já na sua casa de Lanzarote e publicado em 1993.
José Saramago escreveu e publicou também cinco volumes dos seus «Cadernos de Lanzarote», à razão de um por ano, entre 1994 e 1998. Acusaram-no de um dos maiores exercícios de narcisismo a frio por divulgar assim as páginas do seu diário, ao que o escritor respondeu que "este Narciso que hoje se comtempla na água desfará amanhã com a sua própria mão a imagem que o contempla".
«Objecto Quase», de 1978, e «O Conto da Ilha Desconhecida«, editado em 1997, representam as suas incursões pelo conto, enquanto «Viagem a Portugal», de 1981, é o seu único livro de viagens.
Apesar desta vasta obra, foi através do romance que Saramago se distinguiu. Tinha já publicado «Manual de Pintura e Caligrafia» em 1977, onde, à medida que um pintor faz descobertas acerca da representação visual, o autor, de maneira autobiográfica, se descobre como escritor.
Tinha então 60 anos, idade em que a maior parte dos escritores ainda continuam a produzir, mas em que já deixaram para trás a parte mais importante da sua obra. Reconhece que as coisas boas da sua vida lhe aconteceram um pouco tarde, mas é de opinião que «se nós tivéssemos a certeza de ter uma vida longa, talvez valesse a pena guardar para a parte final dela aquilo que temos realmente para fazer».
Na ocasião do 80º aniversário do escritor foi lançado «O Homem Duplicado», que conta a história de um professor que um dia, ao alugar um vídio, descobre que existe um homem exactamente igual a si próprio e aí inicia a busca pela sua própria identidade.