Foi no dia 16 de Novembro de 1922 que a aldeia ribatejana de Azinhaga, no concelho da Golegã, foi testemunha do nascimento de José de Sousa Saramago.
A família era pobre e quase todos eram analfabetos. Mas foi entre os parentes que José Saramago, criança sossegada que gostava de ver as coisas, conheceu o homem mais sábio do mundo: o avô Jerónimo, pastor de porcos, que recolhia os bacorinhos mais frágeis ao calor da sua própria cama e que abraçou as árvores ao despedir-se da vida.
Aos dois anos as dificuldades económicas empurraram a família para Lisboa. Viveram sempre em quartos e mudaram muitas vezes. As coisas só começaram a melhorar quando Saramago tinha sete ou oito anos, mas a casa própria só aconteceu cerca de seis anos mais tarde.
O jovem José fez estudos secundários: o liceal, que não pôde continuar por causa das persistentes dificuldades económicas, e o técnico. O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico e só aos dezanove anos é que teve dinheiro suficiente para comprar o primeiro livro.
Em 1947 acontecia a sua primeira aventura literária com a publicação do romance «Terra do Pecado», reeditado cinquenta anos depois. Mas, desconfiado que afinal não tinha grande coisa a dizer, Saramago calou-se até 1966, quando saíram «Os Poemas Possíveis».
Entretanto foi desenhador, funcionário da Saúde e da Previdência Social e tradutor. Durante doze anos trabalhou numa editora, onde foi encarregado da direcção literária e da produção. Foi crítico literário da revista «Seara Nova». Também foi jornalista, no «Diário de Lisboa», em 1972 e 1973, e no «Diário de Notícias», onde exerceu o cargo de director-adjunto, em 1975. A partir do ano seguinte pôde passar a viver exclusivamente do que escrevia.
Há dez anos deu-se uma reviravolta na sua vida. O seu livro «Evangelho Segundo Jesus Cristo», premiado pela Associação Portuguesa de Escritores em 1991, foi impedido pelo Sub-secretário de Estado da Cultura de concorrer ao Prémio Literário europeu. Argumentava António de Sousa Lara que a obra era ofensiva para a tradição católica portuguesa e por isso não podia representar o país.
É na localidade de Tías que continua a viver, entre campos de lava, vulcões, montanhas e pedras, desde 1993. Mora numa casa simples, que simplesmente chamou «A Casa», com as paredes cheias de livros, a companhia dos três cães e vista para o mar.