Não é preciso muito espaço. Basta afastar a mesa da sala, levantar o tapete e o palco está montado. O cenário fica pronto num minuto: é só alinhar três cadeiras. «Coração de Homem» é a peça de teatro que Raul de Orofino e Paulo Nery levam a sua casa.
Fátima e o marido decidiram reunir os amigos para uma noite de convívio diferente. Entre um copo e dois dedos de conversa, os seus nove convidados ficaram a saber que iam assistir a uma peça de teatro. Ali mesmo, na sala.
A ideia de fazer teatro ao domicílio veio do Brasil com Raul de Orofino. «Quando surgiu o 'Plano Collor de Melo', que acabou com a cultura, eu disse que ia representar nem que fosse na casa das pessoas. E aí o projecto deu certo, isso foi em 1990», disse o actor brasileiro à TSF Online.
«Dois anos depois, a actriz Irene Ravache entrou no projecto e dirigiu-me durante alguns anos, nos quais fizemos teatro ao domicílio e até em aviões», relembra.
Está em Portugal há três anos e meio e decidiu retomar a experiência. A estreia foi a 24 de Junho, ao lado do português Paulo Nery.
Com um mês de actuações, «Coração de Homem» já foi visto em mais de uma dezena de domicílios, a maioria na região da Grande Lisboa, com excepção de uma representação no Funchal.
O texto é da autoria do actor brasileiro - que também encena - e «fala sobre traições, sobre a relação homem/mulher», pelo que o espectáculo é aconselhado para «maiores de 14 anos».
Uma história de amores
Em «Coração de Homem», Raul de Orofino e Paulo Nery encarnam o papel de dois primos que têm em comum o facto de terem sido traídos pelas suas mulheres, uma torna-se lésbica e a outra tem uma relação com um homem mais velho que conheceu através da Internet. Em jeito de desabafo, os dois primos percebem que não souberam amar.
«A peça alerta sobre poder melhorar a relação de amor, não só com o parceiro amoroso mas com a família em geral», explica Raul de Orofino.
«Através do humor contamos uma história em que a moral é que é preciso regar a plantinha para que o amor continue dando frutos. Senão o amor perde-se. É muito triste ver pais e filhos que não se abraçam depois de anos, que não conseguem dizer 'eu gosto de você'», acrescenta.
Não desce o pano mas há muitas palmas
No fim desta peça de teatro não desce o pano mas, o abraço de cumplicidade entre os primos após 55 minutos de cumplicidade e aprendizagem é brindado com um forte aplauso de Fátima e dos seus convidados.
«É uma energia de amor que toma conta da sala. É uma consciência de que podemos amar melhor», considera Raul de Orofino.
Em cada casa, uma plateia diferente, com «casais, pessoas de idade, pessoas sozinhas, jovens de 18/20 anos mas quase sempre com efeito de surpresa muito grande para nós os dois», salienta Paulo Nery.
«Acabamos o espectáculo, conversamos um pouco com a plateia e então eles dizem coisas que são lindas e que nos fazem crescer muito como actores e como pessoas», confessa o brasileiro.
«Tem uma frase no texto em que digo assim: 'há muito tempo que não olho a minha mulher nos olhos em silêncio'. Quando acabou o espectáculo, um senhor disse: 'há muito tempo que não olho a minha mulher nos olhos em silêncio'. Ela estava em frente a ele e respondeu: 'Eu olho-te mas tu não me vês'. Ficou um clima muito positivo, foi uma coisa muito linda», exemplificou.
«Coração de Homem» está em tournée nacional e cada actuação custa entre 20 e 30 euros por espectador. As reservas podem ser feitas através do número 919 101 007.