Quando lhe chamam fotógrafo, Spencer Tunick não gosta e muito menos quando apelidam o seu trabalho de fotografias. São instalações. Mas mais importante do que a denominação é conhecer o homem que está por trás da máquina fotográfica.
Nascido em 1967, em Middletown, Nova Iorque, Spencer Tunick deselvolveu, desde 1992, um gosto pelas multidões de nus. Desde então viaja pelos cinco continentes para fotografar multidões que se despem, voluntariamente, para a sua máquina fotográfica. No total, Tunick já organizou mais de 50 instalações.
Exemplos disso são as concentrações que o artista juntou em Viena, Melbourne, Roma, Buenos Aires, Helsínquia, Montreal, Santiago do Chile, São Paulo, Barcelona, entre outras.
O recorde foi batido em Barcelona, quando Tunick reuniu cerca de sete mil pessoas. Antes, 4500 voluntários tinham estado em Melbourne e cerca de 1100 em São Paulo.
Tunick e a lei
Mas se na Europa o nova-iorquino consegue dar largas à imaginação sem ter problemas com as autoridades, na sua terra natal, o mesmo não se passa. Desde 1992, Tunick já foi preso cinco vezes em Nova Iorque, quando tentava fotografar nus em espaços públicos.
O artista chegou a ser levado ao Supremo Tribunal em Washington, mas no final acabou por ganhar o processo contra a cidade de Nova Iorque, o que lhe permite agora realizar o seu trabalho sem medo de voltar a ser preso.
«Os meus nus não são polémicos»
«Sinto que os meus nus não são polémicos», disse Spencer Tunick em Março de 1997. «A polémica reside no facto de eu estar a usar a cidade como a minha paisagem», explicou o artista.
O artista diz-se ser «fascinado (quase obcecado, segundo o próprio) pelo corpo humano». Por isso, Tunick defende que «registrar a sexualidade colectiva e toda energia positiva que ela transmite, é uma nova experiência artística».
«Acredito que minhas fotos conseguem retratar o período e o meio em que vivemos», disse Tunick, em declarações a um jornal brasileiro.
O artista diz não ter um método para organizar as pessoas, mas adianta que gosta de misturá-las sem olhar a género, idade ou mesmo profissão.
«Quero anular a sexualidade do corpo. Trabalhar com ele não como um objecto sexual, mas como uma obra de arte orgânica, uma escultura pura. E pública», adiantou Tunick.
Instalações e fotografias
Spencer Tunick rejeita ser chamado de «fotógrafo» e recusa a ideia de que as suas instalações sejam denominadas de «fotografias». Como disse à revista «Pública», «o que faço são instalações que documento através da fotografia e vídeo».
Na verdade, os seu trabalhos acabam por se demarcar da fotografia pela originalidade. As paisagens urbanas retratadas deixam de ter edifícios e asfalto cinzento para passarem a ser um conjunto de prédios e monumentos com um tapete humano em seu redor.
Sem roupas e acessórios, os voluntários posam colectivamente naquilo que deixa de ser um aglomerado de corpos para passar a ser uma obra de arte.