Os versos de António Ramos Rosa lembram a «facilidade do ar» e por isso o poeta de Faro é hoje agraciado com um doutoramento Honoris Causa pela Universidade do Algarve.
António Ramos Rosa completa, esta sexta-feira, 79 anos de uma vida difícil e pobre percorrida entre Lisboa e Faro, cidade onde nasceu, em 1924.
Foi no Liceu de Faro que se manifestou a sua vocação literária, mas foi nos anos 50, em Lisboa que mostra o seu esplendor poético ao publicar alguns dos seus poemas na revista «Árvore», que ajudou a fundar.
Depois segue-se a revista «Cassiopeia», mas a aventura das revistas não o ajudava a sobreviver, por isso, António Ramos Rosa fazia uma ou outra tradução e contava com uma preciosa ajuda da mãe para as contas da pensão.
Ele teve um fugaz emprego num escritório, mas não aguentou o horário, o livro de ponto e a rotina das horas certas. Os amigos contam, já com uma certa aura lendária, que um belo dia Ramos Rosa saiu à rua e era tão magnífico o sol que achou impossível voltar ao escritório. E não voltou.
Assim, o poeta passou a dar explicações. Mas devido às dificuldades financeiras, Ramos Rosa voltou a Faro, onde continuou a dar explicações de francês e português.
Em Faro, Ramos Rosa conheceu Agripina, uma amiga de Luiza Neto Jorge que então dava aulas no liceu da cidade. Casaram - uma união de que nasceu uma filha, Maria Filipe - e fixaram-se em Lisboa em 1961.
A mulher diz que ele «respira, vive a poesia. É uma obsessão». Enquanto os amigos o chamam «Franciscano da poesia», pela sua atitude libertária, em defesa da palavra.
Ele próprio afirma que «o poeta nasce do poema». E acrescenta: «O poema é trabalhado a partir daquilo que nos é dado. Tenho essa experiência. Muitas vezes, estou deitado e vêm-me à cabeça imagens, palavras, mas tudo é muito confuso. Tenho o que me levantar e começar a escrever para clarificar o que estava a sentir», disse o poeta numa entrevista ao Jornal de Letras.
Os seus admiradores, como o poeta Casimiro de Brito dizem que Ramos Rosa persegue «uma linguagem mínima, sustentada pela evidência das imagens».
Com mais de sessenta livros editados, António Ramos Rosa, nunca se queixou da falta de criatividade: «Há poetas que se queixam de só escrever um poema por mês ou por ano. Eu escrevo muitos todos os dias. É assim como a chuva, qualquer coisa compulsiva».
Poema Inédito
Ainda esta semana o Diário de Notícias revelou dois poema inéditos de António Ramos Rosa, um dos quais reproduzimos aqui.