As Festas do Povo de Campo Maior (Portalegre), que se distinguem pelas ruas ornamentadas com flores de papel, aguardam este ano mais de 1,5 milhões de visitantes, de acordo com as previsões dos promotores.
Os festejos - únicos do género no país e com mais de um século de História - decorrem de 28 de Agosto a 05 de Setembro na vila raiana de Campo Maior, com cerca de 10 mil habitantes.
As Festas do Povo, das Flores ou dos Artistas, só se realizam quando a população da vila quer e são reconhecidas internacionalmente pela sua originalidade e cariz popular, com os habitantes a preparar durante meses a ornamentação das ruas com flores de papel.
O presidente da Associação das Festas, José Manuel Muacho, adiantou à Agência Lusa que, este ano, o número de visitantes deverá ultrapassar o da última edição, em 2000, que totalizou cerca de 1,5 milhões de pessoas.
De acordo com o responsável, 86 ruas da vila vão ser ornamentadas, correspondendo a uma distância de cerca de dez quilómetros, e apenas uma artéria do centro histórico, reservada para zona de lazer, não vai ter decoração.
«Em relação à anterior edição das festas, há mais trinta ruas inscritas e a organização paga, mais uma vez, o papel e todos os materiais para a ornamentação», explicou José Manuel Muacho, indicando que o orçamento das festas ronda um milhão de euros.
A população vai utilizar milhões de flores, gastando cerca de 20 toneladas de papel, várias toneladas de cartão grosso e de cola e no conjunto cerca de 50 materiais diferentes, todos com base no papel.
O responsável explicou ainda que a organização criou mais espaços de lazer, onde os visitantes vão ter condições para descansar e refrescar-se, ficando o jardim municipal destinado para esse efeito.
A organização solicitou a todos os municípios portugueses a cedência de bandeiras das autarquias para serem colocadas no jardim municipal.
Segundo José Manuel Muacho, vai ser instalada na vila uma roda gigante, que habitualmente funciona em feiras e parques de diversão e que corresponde à altura de um edifício com nove andares, de onde os visitantes podem desfrutar de uma panorâmica aérea das festas.
«As perspectivas são superiores em relação aos festejos de há quatro anos», acrescentou.
A organização já foi contactada por pessoas e empresas turísticas de diversas localidades do país e de outros países da Europa, interessadas em organizar excursões ao evento.
As festas envolvem um trabalho colectivo que representa mais de três milhões de horas gastas na feitura das flores, na decoração e, por último, no arranjo das diversas ruas.
A ornamentação das ruas começa na véspera das festas e a população local chama a este trabalho a “enramação”. Os homens cavam buracos para erguer os arcos e sobem às escadas para estender os fios cobertos de flores, enquanto as mulheres, principais obreiras da ornamentação, orientam os trabalhos, que se prolongam pela noite dentro.
Todas as ruas exibem tectos de papel colocados em armações de arame e madeira, e as decorações prolongam-se pelas partes laterais e paredes.
Depois, a população visita todas as artérias ornamentadas, ao mesmo tempo que pela vila se começam a entoar as "saias", cantigas tradicionais da região.
Em Campo Maior, vila alentejana do distrito de Portalegre, vai continuar a manter-se a tradição do povo de transformar durante o período das festas as ruas em autênticos jardins de papel colorido.
A animação musical inclui espectáculos com diversos cantores e grupos de música popular.
A Associação das Festas do Povo foi já declarada instituição de utilidade pública como «reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos em prol do património cultural de Campo Maior».
Em Campo Maior, foi também já lançado o livro «Campo Maior, as Festas do Povo das origens à actualidade», de Francisco Pereira Galego, um historiador campomaiorense que se dedica ao estudo das tradições locais.