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Actor fetiche de Manoel de Oliveira

O actor e encenador Luís Miguel Cintra, Prémio Pessoa 2005, é conhecido por ser um dos actores fetiche de realizador de cinema, Manoel de Oliveira, mas dedicou mais de metade da sua vida ao Teatro. É o fundador e principal responsável da companhia da Cornucópia desde 1973.

Filho de uma das principais figuras da linguística portuguesa, Luís Filipe Lindley Cintra, nasceu há 56 anos em Madrid, cidade onde só viveu dois anos.

Na capital espanhola encenou fora da Cornucópia, há apenas um mês, com a peça «Comédia Sem Título», uma peça inédita de Frederico Garcia Lorca, que esteve em cena no Teatro de la Abadia.

No final da década de 60 encenou o seu primeiro espectáculo, «O Judeu», de António José da Silva, juntamente com Jorge Silva Melo, co-fundador da Cornucópia.

Este ano, encenou em Lisboa peças de Brecht, Bonde e Fassbinder e participou no filme «O espelho mágico» de Manoel de Oliveira apresentado no último Festival de Veneza.

Como actor de cinema, estreou-se em 1971 no filme «Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço», de João César Monteiro, e entrou em várias produções de Manoel de Oliveira, como «Vale Abraão» (1993), «A Caixa» (1994), «O Sapato de Cetim» (1985), «O Meu Caso» (1987), «O Convento» (1995), ou «Princípio da Incerteza» (2002).

Interpretou também papéis em filmes de outros conceituados cineastas e realizadores portugueses, como João César Monteiro, Paulo Rocha, Maria de Medeiros, Teresa Vilaverde.

Em 2002, entrou ainda na produção «Em Clandestinidade» do realizador do norte-americano John Malkovich.

Foi argumentista do filme «A Morte do Príncipe», de 1991.

Iniciou-se no teatro em 1968, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Românicas.

Ainda antes do 25 de Abril, estudou teatro em Inglaterra, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian.

Quando regressou, Luís Miguel Cintra fundou com Jorge Silva Melo, em 1973, o Teatro da Cornucópia, onde há mais de três décadas trabalha como actor e encenador.

Ao longo da sua carreira, participou em Festivais de Teatro em Veneza, Avinhão, Paris, Bruxelas e Udine, e encenou também produções de ópera no Teatro Nacional de São Carlos.

Numa entrevista ao Jornal de Letras em 2003, confessou que se o obrigassem a fazer uma escolher entre ser actor ou encenador, «por prazer» optaria pelo palco.

«Tenho júbilo em representar, em estar em cena. Continuar a brincar, fingindo que sou outra pessoa é-me precioso e fundamental até para o meu equilíbrio psíquico», disse.

Foi várias vezes convidado para ser director do Teatro Nacional D. Maria II (em Lisboa), mas recusou sempre.

«Interessa-me mais dirigir uma estrutura como a da Cornucópia, do que um teatro nacional», justificou.

Luís Miguel Cintra teve ainda «intervenções destacadas» como declamador de poesia, como reconheceu o júri do Prémio Pessoa.

Aliás, organizou recitais de poesia, tendo gravado a leitura integral de «Viagens na Minha Terra», de Almeida Garrett, e de «Amor de Perdição» de Camilo Castelo Branco, assim como poemas de Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Ruy Belo, Luís de Camões e Antero de Quental.