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Morreu Guennadi Aigui, eterno candidato ao Nobel

O poeta russo de origem tchuvache Guennadi Aigui morreu, esta terça-feira, em Moscovo aos 71 anos em consequência de uma grave doença, informou a representação da Tchuváchia, república da Federação Russa, em Moscovo.

Traduzido numa vintena de línguas (incluindo inglês, francês, espanhol e alemão), Aigui só pôde editar os seus livros na União Soviética depois da abertura do regime promovida pela "perestroika" do então Presidente Mikhail Gorbachov durante a década de 80.

Figurando nos últimos anos nas pequenas listas de favoritos a receber o prémio Nobel da Literatura, este poeta futurista tem uma obra extravagante, musical e cheia de ritmos modernos.

Criador de uma linguagem própria, ímpar até mesmo entre a profícua poesia russa, alguém chegou a escrever sobre ele que a sua poesia parece escrita por um lobo, se a um lobo fosse concedido dom poético.

Descendente de uma linhagem de "feiticeiros brancos", Aigui procurava sempre as paisagens da Tchuváchia (800 quilómetros de Moscovo), nessa terra negra que se agarra à sola dos sapatos, onde as florestas e os campos se estendem até ao infinito, para retemperar as forças e alimentar a inspiração.

«Cada barranco, cada campo de aqui, encontra-se nos meus versos», explicava este homem de cabelos grisalhos, enquanto caminhava em direcção às pequenas isbas (casa de madeira das regiões florestais da Rússia) da sua infância, onde ainda hoje o gás não chegou.

«É nesta terra que encontro a minha força, nestes tempos difíceis em que o país está envolvido numa guerra, numa má guerra», dizia, evocando a Tchetchénia.

Sobre ele, o poeta Jacques Roubaud disse ser «a voz mais original» da poesia russa contemporânea e uma das mais singulares do mundo.

Filho de um professor primário que lhe contava de cor "Os Miseráveis" de Victor Hugo em tchuvache, Guennadi Aigui nasceu a 21 de Agosto de 1934 em Chairmurzino, na margem direita do Volga, onde os habitantes, descendentes dos hunos, guardam os traços asiáticos.

O pai morreu na frente da guerra em 1943, obrigando a mãe, camponesa de um "kolkhoz" (cooperativa de agricultores), a criar sozinha Guennadi e as duas irmãs.

Aigui parte para Moscovo em 1953 onde é admitido no Instituto de Literatura, dedicando-se vorazmente a ler tudo o que encontra, permitido e proibido.

Os futuristas, principalmente Maiakovski, foram o seu primeiro mestre, a ponto de um professor o apelidar de «jovem Maiakovski tchuvache».

No entanto, será o seu encontro com Boris Pasternak, em 1956, que marcará uma mudança na sua vida.

A amizade com Pasternak traz-lhe dissabores. Os seus versos de fim de curso são denunciados como "hostis" para o regime soviético e só consegue licenciar-se em 1959, apresentando meras traduções.

Consegue um emprego no museu Maiakovski em 1961 (trabalhará aí dez anos) ao mesmo tempo que traduz sem parar. Edita uma "Antologia de poetas franceses" em tchuvache, depois outras de poetas húngaros e de polacos. Ao mesmo tempo edita uma de poesia tchuvache em francês, inglês e italiano.

Muitas vezes considerado um poeta difícil, Aigui evoca na sua poesia musical a natureza, o sono, o silêncio, a infância, a neve, tudo num diálogo com a eternidade.

Redação