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Nanocomputadores dentro de 20 anos

Computadores tão pequenos que caibam na ponta dos cabelos vão ser realidade dentro de duas décadas. Os chamados nanocomputadores serão «mais potentes, mais rápidos e muito mais pequenos do que os actuais».

Computadores tão pequenos que caibam na ponta dos cabelos parecem, por enquanto, assunto da ficção científica, mas, segundo Carlos Fiolhais, físico da Universidade de Coimbra, vão ser realidade dentro de duas décadas.

«Os nanocomputadores não existem ainda mas podem vir a existir», disse à Lusa Carlos Fiolhais, salientando que eles serão «mais potentes, mais rápidos e muito mais pequenos do que os computadores actuais».

O físico, que se definiu a si próprio como «um optimista», estima que 20 anos é o prazo máximo para os nanocomputadores verem a luz do dia. «Mas provavelmente ainda antes» admitiu.

Basta lembrar que há cerca de 40 anos um computador com uma capacidade de processamento de dados nos primórdios das máquinas de hoje ocupava uma sala inteira, para se perceber que «os actuais palmtops um dia vão estar na ponta dos cabelos», sublinhou.

A solução passa pela nanotecnologia, uma espécie de «engenharia dos átomos» que se destina à construção de estruturas manipulando um a um os blocos básicos constituintes da matéria.

A ideia subjacente é a de que se for possível «dizer» aos átomos como se devem posicionar e reagir entre si será possível controlar as características do material obtido.

Actualmente já é possível modelar agregados de átomos em computador, embora Carlos Fiolhais admita que «há uma diferença entre fazer simulações em computador e a realidade».

Numa área da ciência em que a unidade de medida é um milhão de vezes mais pequena do que o milímetro, o sonho da nanotecnologia «é que os agregados atómicos possam vir a ser produzidos à escala industrial», disse.

Para este responsável do Centro de Física Computacional da Universidade de Coimbra, um dos caminhos a seguir para a produção desses agregados encontra paralelo na biologia.

«Podemos imitar os computadores mas se calhar o caminho é imitar a maquina biológica», sublinhou Carlos Fiolhais, dando como exemplo as enzimas.

Outro dos problemas subjacentes diz respeito aos custos desta tecnologia. Estima-se que uma fábrica de circuitos integrados aplicada à nanotecnologia tenha um orçamento superior ao dos Estados Unidos da América.

«Estas coisas custam muito dinheiro», admitiu Carlos Fiolhais. «Mas as tecnologias democratizam-se, primeiro compram os ricos e depois os pobres», sublinhou o físico, mantendo que os nanocomputadores serão os computadores pessoais do futuro.

«Pessoais quer dizer para qualquer pessoa, ricos e pobres», frisou.

A questão da diminuição de custos levou Carlos Fiolhais a dar o exemplo do microscópio para observar átomos, que irá estar disponível nas escolas de Leiria numa acção dinamizada pela Sociedade Portuguesa de Física e apoiada pela Câmara local e pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia.

«Custa actualmente mil e duzentos contos e quando surgiu tinha um preço incomportável», salientou o físico, para quem o microscópio de efeito de túnel, um modelo pedagógico limitado à análise de amostras de grafite e prata, «não é ficção científica, mas uma realidade palpável».

O físico estima que num prazo de cinco anos cada escola do país possa possuir um equipamento semelhante, sendo até possível «além de ver átomos interagir com eles» através da ligação de um mecanismo sensorial. «É como dizer quem não acreditar pode apalpar», disse.

Carlos Fiolhais mostrou-se optimista quanto ao futuro da Física, mas pessimista quanto «à educação do país»: «Faz-me confusão que os átomos não se ensinem às crianças nas escolas», adiantou, já que daqui por 20 anos os alunos de hoje «irão ocupar os cargos dirigentes deste país».

«E nessa altura não estarão preparados para a vida», concluiu.

Redação