Já é possível, em Portugal, um seropositivo ser pai sem riscos de contaminação da parceira e do descendente. A técnica vai ser aplicada no Hospital São Francisco Xavier e é possível quando apenas o homem é seropositivo.
Os portadores do vírus da SIDA que queiram ser pais, sem risco de infectar a parceira e, logo, o descendente, já o podem fazer em Portugal através de uma lavagem do esperma.
Única hipótese de garantir uma gravidez segura, a lavagem do esperma consiste em isolar o espermatozóide do ambiente que contém o vírus da sida.
Só pode ser efectuada em casais discordantes - o candidato a pai está infectado, mas a parceira não - e o Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, é o primeiro a proporcionar esta prática.
O primeiro casal nesta situação irá submeter-se ao processo brevemente e as expectativas criadas em torno desta prática pioneira - em Portugal, pois existem vários países onde é efectuada há alguns anos - são grandes.
Em fila de espera para a lavagem do esperma no São Francisco Xavier encontram-se já mais três casais, como revelou à Agência Lusa o director do serviço de obstetrícia deste hospital, Jorge Branco.
Esta unidade de saúde recebeu os candidatos a pais provenientes do Hospital Egas Moniz, uma vez que ambos os hospitais trabalham em complementaridade.
Os casais foram encaminhados pelo especialista de doenças infecciosas no Hospital Egas Moniz, Jaime Nina, que, em declarações à Lusa, afirmou serem grandes as expectativas criadas em torno desta técnica, há anos implementada em França e Itália.
Operacional desde Agosto no Hospital São Francisco Xavier, a lavagem de esperma só é possível depois de uma espécie de triagem dos casais, sendo que «a vontade de ter um filho, salvaguardando a saúde da parceira e do descendente, é por si só um sinal de responsabilidade».
Apesar disso, os serviços asseguram-se de que o casal tem um relacionamento estável e condições a nível profissional e de habitação.
«Simples e nem por isso caro», como disse à Lusa a directora do serviço de patologia clínica deste hospital, Julieta Esperança Pina, o processo exige, contudo, «uma grande experiência técnica laboratorial», a qual existe no São Francisco Xavier.
O processo inicia-se com uma recolha do esperma do seropositivo, «o que deve acontecer numa altura em que a carga viral esteja baixa», esclareceu Jorge Branco.
Depois de «limpo» do conteúdo que contém o vírus da sida, o esperma é inseminado artificialmente na parceira, que deve, para isso, encontrar-se no período fértil.
A taxa de sucesso de uma gravidez através deste método ronda os 50 por cento, segundo o director do serviço de obstetrícia do Hospital São Francisco Xavier.
Ao todo, prevê-se que este processo dure cerca de um mês até à concretização da gravidez, se esta for bem sucedida.
O processo levanta, no entanto, algumas reticências, como disse à Agência Lusa o director do serviço de doenças infecciosas do Hospital Santa Maria, Francisco Antunes.
«Mesmo com a lavagem do esperma, não há uma segurança a cem por cento de que a transmissão do vírus para a parceira não aconteça», ressalvou Francisco Antunes.
Por outro lado, este infecciologista chamou a atenção para o facto de a taxa de insucesso na inseminação artificial ser «muito alta», o que «leva à repetição do processo e, logo, a um maior risco de contaminação».
Mais optimista está Jaime Nina, que, baseado na experiência acumulada até agora nos países que praticam esta técnica, conclui não haver infecção materna.
Para a implementação desta prática contribuiu o aumento da esperança média de vida dos seropositivos, que, até 1995, era muito baixa.
Só depois da aplicação das terapêuticas triplas, em finais de 1995, princípios de 1996, é que «começou a fazer sentido pensar em filhos», explicou Jaime Nina.