Os cientistas quenianos e britânicos envolvidos na pesquisa de uma vacina contra a Sida estão envoltos numa polémica de usurpação de propriedade intelectual. Os quenianos querem ter direito à patente do anticorpo, registada em nome dos ingleses.
Uma luta de patentes pode vir a perturbar os trabalhos para criar uma vacina efectiva contra a Sida.
Há cinco anos que cientistas da Grã Bretanha e do Quénia trabalham em conjunto numa vacina, e o trabalho já deu os primeiros frutos, e as primeiras esperanças.
No entanto, os cientistas quenianos queixaram-se de que o seu nome foi omitido no formulário da patente da vacina e que, por isso, estão excluídos dos direitos legais de poder vir a lucrar com o aproveitamento comercial da vacina, resultado da sua pesquisa.
A discussão tornou-se tão séria que as duas equipas estão presentemente reunidas em Nairóbi, para tentar chegar a um acordo que agrade a ambos os lados.
No entanto, Anne Marie Coriat, directora do Centro de Pesquisa Médica (CPM) da Universidade de Oxford, garante que os cientistas quenianos não têm razão de queixa em relação a propriedade intelectual, porque não estiveram na equipa que concebeu e desenhou o gene envolvido.
«Os cientistas que conceberam e desenharam o gene que será usado como base da vacina são ingleses. O novo anticorpo foi desenvolvido na Unidade de Imunologia Humana do CPM, utilizando informação científica que era pública. Não houve inventores quenianos», garante.
No entanto, Coriat também afirma que os cientistas ingleses terão muito gosto em chegar a um acordo para a partilha de lucros comerciais da nova vacina.
Khama Rogo, ex-director da Associação de Medicina do Quénia acusou na semana passada os cientistas ingleses de utilizarem os cientistas quenianos como «moços de recados» e de não os verem como iguais.
A imunidade das prostitutas
O projecto da vacina foi baseado numa pesquisa efectuada nos bairros de lata de Naróbi.
Os cientistas descobriram que as prostitutas que trabalham nesses bairros parecem ter desenvolvido uma imunidade natural ao vírus que provoca a Sida.
Os primeiros testes com a vacina começaram no passado mês de Agosto, no Reino Unido.
Nesta primeira fase analisa-se apenas a segurança da vacina, e não a sua eficácia. Para já, os cientistas querem apenas saber se existe algum efeito secundário que seja perigoso para a saúde.
Se os estudos se revelarem promissores, passará ainda uma década até que uma vacina possa ser produzida em massa.
No início do ano, algumas das prostitutas envolvidas no estudo perderam a imunidade e contraíram o HIV, o que causou alguma preocupação aos cientistas.
No entanto, a equipa de Nairóbi crê que foi o facto de as mulheres deixarem de estar em contacto com o vírus, por terem deixado as ruas, que as tornou vulneráveis.
Para já, o anticorpo só actua numa das estirpes de HIV, mas os cientistas acreditam que se tiverem sucesso poderão desenvolver uma vacina geneticamente transformada para dar imunidade contra todas as estirpes.