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Manuscrito árabe e ajami encontrado no Níger

Um velho manuscrito árabe e Ajami foi encontrado num zona recôndita do Níger, data do século XVII, anunciou Moulaye Hassane, chefe do Departamento de Manuscritos Árabes e Ajamis da Universidade de Niamey, Faculdade de Ciências Humanas.

Moulaye disse que o manuscrito contém escritos em Tamacek, a língua falada pelos Tuaregues, esclarecendo que o documento fala da farmacopeia tradicional e descreve certo tipo de doenças e respectivos sintomas, indicando os nomes das plantas e folhas que devem ser usadas para curá-las.

Moulaye define o Ajami como uma forma de escrita dos alunos muçulmanos que usavam caracteres árabes, o alfabeto do Corão, utilizada na escrita das línguas africanas.

«A forma como os documentos Ajami foram descobertos em Hausa, Fulfulde, Tamacek, Sonrai e Zamra (todas as línguas faladas no Níger) relaciona-se com temas religiosos, históricos, literários, económicos e políticos», sublinhou.

Numa altura dominada pelo alfabeto latino, a originalidade dos manuscritos árabes não precisa de ser provada, explicou o investigador.

«Os manuscritos à nossa disposição no IRSH - Instituto de Investigação de Ciências Humanas (em Niamey) são documentos extremamente raros, nos quais o conjunto da documentação original pré-colonial pode ser encontrada», acrescentou.

O investigador salientou que a particularidade de um manuscrito árabe, na África sub-saariana, assenta no facto de conter um conjunto de informação heterogénea, que torna difícil classificá-lo de acordo com o tema.

«Em 500 páginas de manuscrito, pode-se encontrar temas políticos, sociais e religiosos. A sua exploração e investigação exige uma equipa multidisciplinar de tradutores, historiadores, sociólogos ou antropólogos», prosseguiu.

O investigador explicou que o documento Tamacek Ajami descoberto, põe em causa ideias até agora feitas sobre o Ajami, nomeadamente de que se teria desenvolvido na África sub-saariana com o objectivo de popularizar o Islão.

A tendência da literatura durante o século XIX DC e a existência de 600 páginas manuscritas que datam até ao período da dinastia Askia (no fim do Império Gao, cerca do século XVI) corrobora estas ideias àcerca do Ajami.

De acordo com Moulaye, um vasto número de manuscritos árabes, compostos de documentos oriundos do Níger, podem ser encontrados na Biblioteca Nacional de Paris, onde as condições são melhores.

Numerosos investigadores dos EUA, França, Inglaterra, Argélia, Marrocos e Líbia já vieram analisar os documentos, tendo também o Departamento de Árabe e Ajami do IRSH estabelecido relações com centros de documentação especializados na conservação e gestão de manuscritos árabes.

«Temos uma ligação particular com o Centro Ahamadou Baba em Tombuctu (Mali), que tem 10.000 documentos, bem como com os investigadores da Universidade Xeque Anta Diop de Dacar, Senegal, esclareceu Moulaye.

Redação