O desconhecimento dos mecanismos que desencadeiam a BSE e a variante humana da doença (Creutzfeld Jakob) é um dos principais bloqueios à tomada de medidas eficazes para travar o surgimento de surtos, segundo defendem alguns especialistas.
O grande problema que envolve a BSE e a sua forma humana é que «ainda há muitos factores que não se conhecem», disse à Lusa, Marques Fontes, toxicologista e professor da faculdade de medicina veterinária.
O reaparecimento de surtos da doença, mesmo depois de tomadas medidas de precaução e controlo, como acontece em Inglaterra, é, para Marques Fontes, uma prova de que muitos dos mecanismos de transmissibilidade da doença ainda não são conhecidos.
Apesar de haver muitas teorias e conjecturas acerca das formas de transmissão da BSE, muito há ainda para esclarecer.
Também para Rogério Amaral, director do Serviço de Neurologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), os avanços do conhecimento da comunidade científica são essenciais para a vigilância uma vigilância mais firme à doença de Creutzfeld-Jakob.
«O período de incubação da doença ainda não é conhecido. Sabe-se que é um período algo longo, mas precisar este dado é muito importante para a detecção de novos casos», defende Rogério Amaral à Lusa.
Aliás, para Marques Fontes, algumas das políticas que podem ser tomadas para evitar o ressurgimento de surtos da BSE estão muito dependentes do saber científico.
Por isso, o toxicologista questiona: «De que vale pensarmos que a proibição de farinha de carne nas rações de ruminantes resolve o problema, se desconhecemos com precisão se haveria ou não outra forma de transmissão da doença, tal como se suspeita em relação aos pesticidas».
Mas, reconhece Marques Fontes, houve muitos avanços desde 1996. Há quatro anos vários medicamentos de uso humano incluíam na sua composição substâncias de origem bovina.
Actualmente, a transmissibilidade medicamentosa da BSE é, segundo o toxicologista, «muito residual e representa um papel ínfimo do problema». Para Marques Fontes, a via alimentar continua a ser a mais preocupante.