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Arqueólogo japonês forja descoberta paleolítica

Um famoso arqueólogo japonês admitiu hoje ter fabricado, de fio a pavio, vestígios de habitações do Paleolítico, cuja descoberta fora anunciada há apenas 10 dias. «Fabriquei, nomeadamente, peças de olaria. Lamento-o sinceramente», admitiu.

Um famoso arqueólogo japonês, conhecido como «as mãos de Deus» pela sua habilidade para descobrir sítios arqueológicos, admitiu hoje ter fabricado, de fio a pavio, vestígios de habitações do Paleolítico, cuja descoberta fora anunciada há apenas 10 dias, rodeada de grande publicidade.

«Fabriquei, nomeadamente, peças de olaria. Lamento-o sinceramente», admitiu, com ar arrependido, Shinichi Fujimura, numa conferência de Imprensa transmitida pelas televisões nipónicas. Adiantou ter enterrado peças da sua colecção pessoal para depois as «descobrir».

Fujimura é director adjunto do Instituto Paleolítico de Tohoku e anunciara, em finais de Outubro, ter encontrado vestígios de habitações antigas, remontando a há mais de 600 mil anos.

Justificou o seu gesto, explicando que se sentia pressionado para realizar novas descobertas, o que o levou a esta tentativa de fraude histórica.

«Fui vítima da tentação. Fico sem voz quando penso no que devo dizer para me desculpar», afirmou, com os olhos fixos na mesa frente à qual falava.

Sob a direcção deste arqueólogo, foram encontrados poços de 15 a 20 centímetros de diâmetro em Kamitakamori, perto da cidade de Sendai, 300 quilómetros a norte de Tóquio. Na altura, a equipa de investigadores indicara que serviram sem dúvida para sustentar estruturas de forma cónica semelhantes a tendas.

Os arqueólogos descobriram também, entre os pequenos poços, um buraco contendo sete objectos de pedra, dando a entender, segundo eles, que o sítio fora utilizado para ritos religiosos ou para a caça.

Afirmaram que estes restos tinham aparentemente cerca de 600 mil anos e constituíam a mais antiga estrutura de habitações trazida à luz do dia no Japão e uma das mais antigas do mundo.

Das 31 peças desenterradas no sítio de Kamitakamori, o arqueólogo Fujimura admitiu ter falsificado 27, segundo o diário japonês Mainichi Shimbun.

Indicou também ter fabricado ou colocado ele mesmo os 29 elementos encontrados este ano no sítio de Soshindozaka de Shintotsugawa, na ilha de Hokkaido (norte), refere o mesmo jornal.

Como as suspeitas se estendem aos seus trabalhos anteriores, uma das mais célebres descobertas dos últimos anos, a do sítio de Chichibu, considerado o mais antigo de todo o Japão, é agora posta em causa, segundo a Imprensa, porque Fujimura foi responsável pelos trabalhos.

Este arqueólogo participou em trabalhos de pesquisa em pelo menos 180 sítios em todo o arquipélago.

«As pesquisas japonesas sobre o período paleolítico arriscam-se a ter que ser revistas de alto a baixo», afirma o Mainichi Shimbun.

Existem poucas vestígios de habitações humanas deste período, uma era em que os homens viviam sobretudo em cavernas.

Fujimura, que começou como arqueólogo amador, conquistou reputação nacional graças a uma série de descobertas sonantes nos anos 80, nomeadamente, em 1981, a de objectos de olaria datados de há 40 mil anos.

Redação