As primeiras imagens captadas pelo telescópio espacial europeu «Newton-XMM» sugere que existem no Universo duas a três vezes mais buracos negros do que se pensava. A conclusão é do astrofísico Xavier Barcóns, coordenador do projecto AXIS.
A análise das primeiras imagens captadas pelo telescópio espacial europeu de raios X «Newton-XMM» sugere, numa estimativa conservadora, que existem no Universo duas a três vezes mais buracos negros do que se pensava até agora.
A afirmação é do astrofísico Xavier Barcóns, coordenador do projecto AXIS, em desenvolvimento por um grupo de trabalho onde se reuniram os esforços de cientistas de treze centros europeus para identificar as dezenas de novas fontes de energia que o «Newton» descobre no espaço cada vez que aponta os seus instrumentos a um ponto concreto do céu.
Calcula-se que este telescópio, lançado em Dezembro de 1999 pela Agência Espacial Europeia (ESA), descubra no Universo ao longo dos seus dez anos de vida cerca de 500 mil fontes de emissão de raios X desconhecidas até agora, entre cúmulos de galáxias, buracos negros, estrelas binárias ou restos de explosões de supernovas.
A tarefa do AXIS consiste em perscrutar todas as fontes de energia que o «Newton» regista quando se foca num astro em concreto, analisá-las em detalhe e formular padrões que permitam classificar as restantes rapidamente.
Novas fontes de energia
Nas primeiras observações a partir de La Palma (Canárias), os cientistas do AXIS identificaram 37 novas fontes de energia, treze das quais na via Láctea e as restantes 24 situadas no exterior da nossa galáxia.
«A identificação de todos estes objectos confirmam as expectativas depositadas na missão do "Newton-XMM". A sua capacidade em detectar os raios X duros está a confirmar que o Universo é muito mais violento e energético do que poderia ser deduzido a partir de uma observação com telescópios convencionais", comentou Barcóns em conferência de imprensa.
Entre os 24 emissores de raios X identificados fora da via Láctea destacam-se 16 quasares, os astros mais brilhantes e longínquos que podem ser observados.
O investigador recordou que a luminosidade destes corpos celestes deve-se ao facto do seu centro ter um buraco negro super maciço que engole gás a uma tal velocidade que gera um enorme brilho.
Novas imagens
De acordo com o que foi visto até agora, os cientistas do AXIS calculam que, por cada quasar visível pelos telescópios ópticos (e com ele o seu buraco negro), o «Newton» é capaz de detectar, em média, dois ou três, e até oito em algumas zonas do Universo.
Além disso, alguns dos buracos negros examinados parecem ter-se formado há muito tempo, quando o Universo tinha apenas quinze por cento da idade que lhe é atribuída (cerca de 15 mil milhões de anos).
O Axis está a descobrir nas imagens do Newton astros que poucas vezes tinham sido observados antes do seu lançamento, e outros «tão raros que, de momento, não encaixam nos tipos conhecidos de corpos celestes, reconheceu Barcóns. No entanto, explicou que não se poderá concluir que estes últimos sejam realmente novos até que a investigação esteja mais avançada.
As expectativas para este projecto são de tal forma elevadas que o comité científico internacional que gere o Observatório do Roque de los Muchachos (Canárias) lhe concedeu prioridade máxima na repartição dos tempos de utilização dos seus quatro maiores telescópios, concedendo-lhe 36 noites de observação este ano e 52 para 2001.