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Alterações climáticas debatidas em Haia

Representantes de cerca de 160 países iniciam hoje na cidade holandesa de Haia o encontro que irá definir a aplicação do Protocolo de Quioto, tendo em vista a redução da emissão de gases responsáveis pelo efeito de estufa.

Ministros e diplomatas de cerca de 160 países vão reunir-se na cidade holandesa de Haia, a partir de hoje até 24 de Novembro, para esclarecer as políticas de redução da emissão de gases responsáveis pelo efeito de estufa.

O objectivo da VI Conferência das Partes (COP 6), é chegar a um consenso quanto à estratégia a ser aplicada.

Trata-se de uma estratégia global sobre as alterações climatéricas que foi acordada no Protocolo de Quioto, há três anos.

Pretende-se nesse protocolo, uma redução de 5% na emissão de gases de estufa relativamente aos níveis de 1990 num período de cinco anos (entre 2008 e 2012). Contudo, muitos países ainda não aprovaram o protocolo, o que significa que os objectivos a alcançar ainda não estão efectivos.

Muitos desses países preferiram primeiro tomar conhecimento dos pormenores operacionais que definem como o Protocolo irá operar na prática, antes de tomarem decisões sobre a sua aprovação.

A reunião de Haia deverá decidir esses pormenores, estabelecer prazos limite e assegurar que eles conduzirão à acção que é, em simultâneo, economicamente eficiente e credível em termos ambientais.

«A conferência de Haia é a oportunidade do agora ou nunca para o acordo de alterações climatéricas», disse Michael Zammit Cutajar, o Secretário Executivo da Conferência. E acrescentou: «A não ser que os governos dos países desenvolvidos assumam as difíceis decisões que conduzirão aos importantes cortes nas emissões e o maior apoio aos países em desenvolvimento, as acções globais para as alterações climatéricas vão perder a força».

A causar pressão para que se chegue a um acordo, estão alguns dos piores desastres naturais que ocorreram recentemente, como as catastróficas cheias em Inglaterra, cujos estragos irão custar bilhões de euros, ou as cheias de Itália do mês passado, que custarão mais de um bilhão e meio de euros.

Muitos cientistas já revelaram que esses desastres naturais são consequência do aquecimento global da Terra, e são da opinião que se deve avançar com a redução das emissões desses gases prejudiciais, bem como fomentar políticas económicas favoráveis ao ambiente e ao clima.

O que acontece, é que o Protocolo de Quioto só irá entrar em vigor depois de ter sido aprovado pelo menos por 55 países presentes na Convenção de Alterações Climatéricas, produtores de um total de 55% dos gases de estufa, nomeadamente dióxido de carbono.

O que é certo, é que até então apenas 30 países concordaram com esse protocolo, todos eles países em desenvolvimento e ainda não houve nenhuma concordância dalgum país industrializado.

Métodos em discussão

Os primeiros dias da conferência são destinados aos discursos de dois grupos das Nações Unidas, o primeiro dedicado a explicitar a cientificidade das propostas, o segundo destinado a criar modos práticos de implementar esses cortes nas emissões.

Também em consideração estão os chamados mecanismos flexíveis concebidos para oferecer aos países várias maneiras de alcançarem os objectivos pretendidos com as reduções de emissão de gases, do modo menos prejudicial para as próprias economias.

Esses incluem os Mecanismos de Desenvolvimento Não Poluentes, que favorecem a utilização de florestas como «consumidoras» do dióxido de carbono, uma espécie de rearborização, para ajudar a absorção do pior gás responsável pelo efeito de estufa.

Outro mecanismo é a interacção entre os países em desenvolvimento e os países industrializados, que os poderão ajudar a alcançar os objectivos, tanto pela transferência de investimentos como pela transferência de tecnologias.

O terceiro método é o chamado comércio de emissões, que permite a compra e venda do «direito de poluir» entre os países desenvolvidos. Por ex., países como a Rússia, que esperam atingir rapidamente os objectivos pretendidos, podem vender alguns créditos aos países com mais dificuldades de alcançar esses fins.

Outro ponto fulcral é a implementação global de métodos de controle das emissões nacionais e das reduções a serem efectuadas, bem como um modo de fiscalizar se os objectivos legais a que se comprometeram estão a ser cumpridos.

A indústria do petróleo

Quem não parece contente são os representantes dos países da OPEP.

O Ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, considera que eles devem receber compensações devido ao impacto que a redução do consumo de petróleo irá ter nas suas economias, e diz não perceber onde está o grave problema, afirmando que os seus reactores produzem muito menos gases de estufa que o gás natural das plantas.

Jayeeta Gupta, um consagrado investigador do Instituto para Estudos Ambientais em Amsterdão discorda. Gupta afirma que «a indústria nuclear farta-se de pressionar» e acrescenta «eles estão a apresentarem-se como se fossem a chave para pôr termo às alterações climatéricas».

O que é certo, é que este encontro é crucial para o futuro do planeta e, numa altura em que os desastres naturais insistem em se mostrar, em que há cada vez mais tempestades, secas, aumento da temperatura e por aí fora, é imprescindível que se passe da teoria à prática, sem mais adiamentos.

Redação