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Baleias australianas estão numa de «revolução musical»

As baleias corcundas australianas do Pacífico estão numa de «revolução musical». Assim, resolveram copiar o ritmo e as letras dos seus parentes do Índico, depois usarem o mesmo repertório durante décadas.

As baleias corcovadas australianas do Pacífico resolveram copiar o ritmo e as letras dos seus parentes do Índico, depois de terem usado, durante décadas, o mesmo repertório com pequenas variantes. Uma verdadeira «revolução musical».

«Normalmente, cada grupo de baleias tem um cancioneiro particular, que é transmitido de geração em geração e que se modifica paulatinamente com o tempo», explicou o biólogo marinho Michael Noad, da Universidade de Sidney.

Cada colónia de baleias tem as suas «estrofes» que os machos interpretam para cortejar as fêmeas, e, de tantos em tantos anos ou décadas, têm de introduzir modificações para não se enfastiar. Contudo, «os machos sabem instintivamente que não podem mudar radicalmente o seu canto, pois correm o risco de serem rejeitados por extravagância», comentou o biólogo australiano.

Por esta razão, o que está a acontecer entre os cetáceos do Pacífico australiano é algo fora do normal, e já começou por volta de 1995.

A introdução de elementos estranhos

Noad começou a gravar em 1995 as «baladas» das espécies que migravam de Norte para Sul, em frente das costas do estado australiano de Queensland.

«Desconhecemos as causas da introdução de elementos estrangeiros. No entanto, pensamos que uma parte do grupo do Oeste se afastou para procurar alimentos e se perdeu nas águas do Pacífico», disse Noad.

«Depois da chegada dos cetáceos estrangeiros, notei um canto diferente do habitual nas baleias de Leste. Dois anos depois, a melodia tinha-se popularizado e todas cantavam uma tonalidade intermédia e, em 1998, só se escutava a nova melodia que está muito parecida à que cantavam as que emigraram em meados da década passada», explicou Noad.

O biólogo marinho adiantou que, «apesar dos rituais de cópula das baleias australianas continuarem a ser um mistério», na época de acasalamento os machos anunciam a sua presença com cantos semelhantes ao choro humano que duram entre 6 e 35 minutos, e interpretam-nos até serem aceites.

Os cetáceos enamorados querem ser os melhores solistas e ter a melhor canção e, em caso de disputa, podem chegar a vias de facto.

Apenas o grupo pode alterar a melodia

As canções das baleias corcundas australianas, as que se vêem às piruetas frente à costa durante o Inverno austral, podem ser comparadas com as dos pássaros «caciques amarelos» do Panamá, afirmou o biólogo.

«Em ambos os casos, tanto o repertório das aves como o das baleias evoluciona lentamente com as mudanças introduzidas pelos membros do grupo, nunca por elementos estranhos», acrescentou o biólogo.

Além disso, as composições das baleias corcundas do Oeste e do Leste da Austrália variam segundo a zona da Antárctica em que habitam e diferenciam-se, por sua vez, das suas congéneres do Japão, Hawai, e da zona do México e Califórnia.

O porquê desta «revolução musical»

O cientista da Universidade de Sidney acrescentou: «Ainda não sabemos as consequências desta revolução cultural e serão necessários, provavelmente, mais uns anos de observação».

De momento, «atrevemo-nos a garantir que esta alteração de comportamento não se deve a uma necessidade de preservar a espécie, pois as baleias corcundas da Austrália têm uma taxa de crescimento de 11 por cento ao ano, o que é bastante alto para um mamífero marinho».

Redação