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Espécie humana pode desaparecer em 2400

Se a tendência mundial para a diminuição da taxa de natalidade se mantiver, a espécie humana poderá desaparecer dentro de 400 anos. Esta é a tese do historiador francês Roland Hureaux.

A espécie humana poderá desaparecer dentro de 400 anos, caso se mantenha a actual tendência mundial para a diminuição da taxa de natalidade.

Esta é a tese de Roland Hureaux, um diplomado da Escola Normal Superior francesa e também historiador, que acaba de publicar um livro «O tempo dos últimos homens», uma edição «Hachete 2000».

Num artigo publicado este mês na revista francesa «Histoire», Hureaux defende que a baixa de natalidade não é um fenómeno exclusivamente europeu. Está a estender-se a todas as regiões da Terra, facto que, na sua opinião, abre as piores perspectivas para o futuro da humanidade.

Roland Hureaux referencia que o movimento de quebra de natalidade começou há 30 anos, na Europa. Acontece que presentemente, todos os outros continentes caminham no mesmo sentido.

Para este historiador «não haverá praticamente europeus em 2200 e deixará de haver homens em 2400».

Uma Europa em quebra

Foi na «velha Europa» que se iniciou o movimento de redução das taxas de fecundidade, ou seja, o baixar da barreira dos 2,1 por cento de crianças nascidas por mulher.

A partir de 1968, na Suécia, na Finlândia, na Alemanha, na Dinamarca, no Reino Unido, na Holanda e depois na França, em 1974, as taxas de natalidade caíram para números inferiores àquela barreira. Seguiram-se outros países europeus, incluindo Portugal.

Portugal regista actualmente, segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística, cerca de 10 milhões de habitantes, o que significa um crescimento face ao decénio anterior. Acontece que a sua taxa de natalidade situa-se nos 1,1 por cento e é uma das mais baixas da Europa.

Esta evolução da população europeia deu-se num período de explosão demográfica no mundo, que atinge presentemente os seis mil milhões de habitantes.

Todavia, segundo o investigador, este crescimento confronta-se com uma realidade a prazo: uma redução progressiva do número de nascimentos nas diferentes regiões terrenas, mesmo nas mais populosas. E o que é grave é que esta tendência não dá indícios de inversão nos próximos decénios e séculos.

Baixa de natalidade em todo o mundo

Nos Estados Unidos, a taxa de natalidade está actualmente nos dois por cento, mas tal facto deve-se essencialmente aos imigrantes hispânicos.

Na Ásia, as taxas de fecundidade ainda são suficientes. Contudo, o autor assinala que, nos últimos 25 anos baixaram de 5,1 por cento para 2,8 por cento. E exemplifica: na China, actualmente, ela já é de 1,8 por cento e 3,4 por cento na Índia.

Na América Latina, no mesmo período, este indicador desceu de 5 por cento para 3 por cento. E mesmo no Irão, apesar de toda a política restritiva face aos métodos contraceptivos, a fecundidade feminina caiu de 7,2 por cento para 2,3 por cento em 20 anos.

Prevê o autor que em 2020, praticamente todos os países já apresentem valores inferiores à barreira dos 2,1 por cento.

Na investigação de Hureaux, apenas o continente africano não tem uma evolução tão drástica de descida da taxa de natalidade, mas, mesmo assim, essa taxa no período em apreço desceu de 6,6 por cento para 5,6 por cento.

Aumento da população mundial, seguido de descida acentuada

O especialista francês refere que as mulheres, neste último quarto de século, são mais numerosas que o homem, mas menos fecundas, embora continuem a gerar uma quantidade apreciável de crianças. Isto ocorre de tal modo que por alturas de 2080, a população mundial deverá situar-se entre os oito a nove mil milhões de pessoas.

Contudo, a partir dessa altura, a tendência será para uma descida acentuada.

Hureaux compara a actual evolução da população do mundo ao que os astrónomos chamam de supernova: a humanidade está a conhecer um período de fulgor único, com a explosão momentânea de crescimento, mas o pior é que será para depois desaparecer.

Certo é que o historiador não muda de tese, «até prova em contrário».

Só mesmo a evolução da genética talvez permita fazer um desmentido à perspectiva do autor e investigador francês.