Cientistas identificaram um gene cuja alteração provoca um funcionamento defeituoso da memória, aumentando o risco de esquizofrenia. É o primeiro estudo que mostra a existência de um mecanismo em que um gene pode propiciar o aparecimento de uma doença mental.
Cientistas norte-americanos identificaram um gene cuja alteração provoca um funcionamento defeituoso da memória e aumenta o risco de sofrer de esquizofrenia.
Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos indicaram que se trata do primeiro estudo mostrando a existência de um mecanismo em que um gene pode propiciar, ainda que ligeiramente, o aparecimento de uma doença mental.
O gene, que os investigadores denominaram COMT, reduz a actividade da dopamina, que é um conhecido neurotransmissor, uma substância química que actua como mensageiro dos sinais no cérebro.
A investigação foi realizada por cientistas do Instituto Nacional de Saúde Mental, que comprovaram que uma redução da dopamina conduz a um funcionamento ineficaz da memória e aumenta o risco de sofrer de esquizofrenia.
A esquizofrenia, que afecta uma em cada 100 pessoas adultas, é a doença mental mais incapacitante, provocando isolamento social,alucinações, perda de emoções e abandono dos cuidados pessoais.
Afecta sobretudo adultos jovens e, segundo os últimos estudos realizados, há indícios que apontam para a possibilidade de ser hereditária em cerca de 80 por cento dos casos.
Várias regiões de diferentes cromossomas foram relacionados com a esquizofrenia , mas nunca se havia vinculado um gene concreto ao problema.
O gene COMT é um dos que se tinham identificado como possíveis responsáveis pelo aparecimento da doença, uma vez que codifica uma uma enzima que divide a dopamina nas ligações cerebrais.
Cada indivíduo herda duas cópias do gene COMT, uma da mãe e outra do pai, mas quando se produz uma variante do gene denominada Val a actividade da dopamina reduz-se.
Val é a variante mais comum do gene e reduz a actividade da dopamina, enquanto outra forma menos comum do gene, denominada Met, aumenta-a.
Em testes realizados em 181 pacientes com esquizofrenia, os investigadores, dirigidos por Daniel Weinberger, da Clínica de Doenças Mentais dos Institutos Nacionais de Saúde, comprovaram que a presença da variante Val condiciona o seu comportamento.
Weinberger e outros clínicos impuseram aos doentes uma tarefa conhecida como teste WCST, que activa o córtex prefrontal.
Submeteram igualmente ao teste 219 irmãos dos pacientes e um grupo de 75 pessoas seleccionadas como mecanismo de controlo.
Aqueles que haviam herdado duas cópias do gene Val realizaram com menos eficácia as tarefas que implicaram o uso da memória do que aqueles que possuíam apenas uma cópia da variação genética.
«É como se um automóvel tivesse um rendimento menor com o mesmo combustível», comentou Weinberger, que liderou o estudo.
Entre um total de 104 pares de pais estudados, os investigadores descobriram que a forma Val do gene COMT foi transmitida à sua descendência, que eventualmente desenvolveu esquizofrenia com mais frequência do que seria normal.