Em Portugal, a investigação sobre as vacinas de ADN, consideradas «as vacinas do futuro», está a ser feita na Universidade da Beira Interior, em colaboração com o Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Acredita-se que a nova geração de vacinas será mais eficaz e menos dispendiosa, logo, também mais acessível aos países mais pobres.
Os investigadores portugueses concentram o seu trabalho numa técnica de purificação das moléculas de ADN, que serão a base destas «vacinas do futuro».
Apesar do objectivo ser o mesmo, conseguir que uma pessoa fique imune a determinadas doenças, as vacinas de ADN são diferentes das outras conhecidas.
Antes de serem injectadas no organismo as vacinas tradicionais levam já os anticorpos que defendem de uma doença. No caso das vacinas de ADN, os anticorpos são produzidos dentro do organismo. É como se dentro do corpo funcionasse uma sala de aula. Os alunos são as células, produzem os anticorpos e aprendem, assim, como se podem proteger das doenças.
A lição é dada por uma molécula de ADN que é transportada pela vacina e que contém todas as informações necessárias para a produção de anticorpos, explica o investigador João Queirós.
«No caso das vacinas de DNA vamos introduzir uma molécula dentro de um organismo por injecção intramuscular e essa molécula vai induzir a produção de um anti-génio. O que vai acontecer é que o organismo, onde foi injectado o plasmídeo, vai produzir uma grande quantidade de anticorpos contra uma doença específica cuja informação estava contida nesse gene, nesse DNA».
O que traz inúmeras vantagens defendem os cientistas. As novas vacinas são mais estáveis, mais eficazes e a distribuição é mais fácil, principalmente em países do terceiro mundo.
«É muito mais fácil manter a eficiência da vacina durante mais tempo porque não precisamos, por exemplo, de uma rede de frio que é extremamente dispendiosa para as vacinas tradicionais, principalmente para chegarem a países subdesenvolvidos, como alguns países africanos. A resposta imunológica é bastante mais prolongada», acrescenta o académico.
Depois de construídas as vacinas é preciso produzi-las e é aqui que vai entrar a investigação da Universidade da Beira Interior (UBI) que consegue produzir em maior quantidade e com maior qualidade, tudo graças a uma novo processo chamado produção e purificação de plasmídeos de ADN para terapia génica por cromatografia de interacção hidrofóbica.
Trocado por miúdos, isto quer dizer que, um plasmídeo, ou seja, uma molécula de ADN, que é a base da vacina, é limpa de todos elementos que a contaminam, proteínas e toxinas, por exemplo.
A purificação ou limpeza é feita através das características da molécula que não têm interacção com a água.
«Normalmente o corpo humano tem 70 por cento água e os outros 30 por cento são moléculas e todas essas biomoléculas têm uma região que tem afinidade pela água e que interage com a água, que é o meio ambiente por natureza das células e dos organismos. Por outro lado, tem uma outra parte que não interactua com essa água, que não tem afinidade pela água, que chama uma parte hidrofóbica. O que nós fazemos é explorar as diferenças químicas nos plasmídios em termos dessa parte que não tem afinidade natural com a água», explica João Queirós.
É graças a este novo método do grupo de biquímica da Universidade da Beira Interior que vai ser possível purificar moléculas de ADN de uma forma mais simples, mais eficaz e com menos custos. A comprová-los estão os resultados da experiência com a vacina contra a raiva que passou pelas mãos dos investigadores da UBI e depois foi enviada para o Instituto Pasteur.
Foram feitos testes durante noventa dias em ratos e concluiu-se que o novo processo tornou a vacina mais eficaz no combate à doença.
Há muito que a comunidade científica se dedica a uma nova geração de vacinas. As vacinas ADN serão portadoras de toda a informação necessária para a produção, dentro do organismo, dos anti-corpos contra diferentes doenças.
A resposta imunológica será mais prolongada e os custos de distribuição da vacina será muito inferior, podendo assim chegar as países mais pobres.