Já estão reunidas as condições necessárias para iniciar o processo de prospecção e produção de energia geotérmica na Terceira. O projecto tem sofrido fortes contestações da comunidade científica local que alega «o equilíbrio ecológico da fauna e flora e os recursos hídricos».
O presidente da Empresa de Electricidade dos Açores (EDA), Monteiro da Silva, anunciou quarta-feira que «estão reunidas as condições necessárias para iniciar o processo de prospecção e produção de energia geotérmica na ilha Terceira».
Falando no final de uma sessão de divulgação do projecto dirigida às autoridades regionais, autarquias e cientistas da Universidade dos Açores, Monteiro da Silva sustentou que vão ser gastos cerca de 6,5 milhões de contos para, em 2005, «produzir 50 por cento das necessidades da ilha».
O projecto, liderado pela empresa Geoterceira e cujos accionistas são a EDA e a EDP, tem sofrido fortes contestações por parte da comunidade científica da universidade dos Açores, que alega «estar em causa oequilíbrio ecológico da fauna e flora e os recursos hídricos».
Fortes contestações
O coordenador do programa Life nos Açores, Eduardo Dias, professor de Ecologia da Universidade açoriana, escreveu mesmo uma carta aberta a diversas entidades manifestando-se contra o local previsto para a prospecção geotérmica, alegando ser uma reserva natural.
Na carta, Eduardo Dias afirma que a exploração da energia geotérmica da Terceira poderá destruir parte do património ambiental existente no interior da ilha e classificado com base na Convenção de Berna.
Trata-se de uma área com espécies protegidas que fazem parte da Rede Natura 2000 e que abrange também a Reserva Natural Geológica do Algar do Carvão, uma gruta que está na lista indicativa dos bens a classificar pela UNESCO como Património Natural da Humanidade.
Eduardo Dias acentua a sua oposição ao projecto pelo facto de naquela área «existir uma planta endémica única no mundo», espécie prioritária para conservação da Directiva Habitates e um habitat único endémico da Ilha Terceira e da Macaronésia que são as fumarolas das Furnas do Enxofre.
Segundo este especialista, naquela área subsistem ainda, protegidas pela mesma directiva europeia, classificadas como prioritárias e em alto risco de extinção, 13 plantas vasculares, 13 habitates e um número indeterminado de aves.
Serviços Municipalizados estão contra
Eduardo Dias argumenta também que aquela zona está classificada como «Sitio de Interesse Comunitário» (SIC) limitando a legislação europeia a sua utilização excepto «quando ocorram razões de saúde e segurança públicas reconhecidas por autoridades nacionais e europeias».
O professor universitário recorda ainda «a importância hídrica de toda a área onde se localizam as bacias de recolha de água da maioria das nascentes que abastecem a ilha».
Por este motivo o Presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, José Pedro Cardoso, disse à Lusa que também já manifestou a sua oposição ao projecto previsto para aquele local.
Caso não sejam dadas certezas absolutas de que a prospecção e produção geotérmica naquele local não vai fazer perigar a qualidade da água que é ali captada, «então não deve ser executado e terá a nossa oposição», garantiu José Pedro Cardoso.
A este respeito Monteiro da Silva embora admitindo que «este é um projecto que tem riscos», afirma que «estão minimizados» porque o que vai ser feito na primeira fase «são apenas furos termométricos para apurar se a zona tem ou não potencialidades para a exploração geotérmica».
Os furos termométricos, acrescentou, serão efectuados a uma profundidade de 500 metros para verificar «se existem no local temperaturas superiores a 250 graus»,
valor considerado como «ideal para a exploração da energia geotérmica».
A GeoTerceira garante que os trabalhos de pesquisa terão em conta a preservação do ambiente, estando o seu impacto devidamente avaliado por um estudo, mostrando-se os responsáveis convencidos que vai ser irrelevante tendo em conta os benefícios da geotermia.
O arranque do projecto começou em 1980 com as pesquisas efectuadas em São Miguel após um primeiro levantamento das potencialidades existentes nas três principais ilhas do arquipélago feito na década de 70.
A exploração da geotermia em São Miguel iniciou-se em 1994 com a central da Ribeira Grande, que dispõe, actualmente, de uma potência total de 13 MW - 39 por cento da produção de energia eléctrica produzida naquela ilha.
O investimento global realizado no projecto geotérmico de São Miguel já ultrapassou os 10 milhões de contos.
Quando a central geotérmica da Terceira entrar em pleno funcionamento cerca de 32 por cento da energia eléctrica dos Açores será produzida com o recurso à
geotermia.