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Bruxelas não financiará investigação para clonar embriões humanos

A Comissão Europeia manifestou-se hoje contra o financiamento com fundos comunitários de quaisquer programas de clonagem de embriões humanos. Projectos que tenham «objectivos terapêuticos» estão incluídos nesta decisão.

A Comissão Europeia manifestou-se hoje, em Bruxelas, contra o financiamento com fundos comunitários de quaisquer programas de clonagem de embriões humanos. Uma posição que abrange, também, projectos que tenham «objectivos terapêuticos», declarou o comissário europeu da Ciência, Philippe Busquin.

Declarações feitas na sequência do anúncio da clonagem bem sucedida de um embrião humano pela sociedade norte-americana Advanced Cell Technology Inc (ACT), um projecto que visa produzir células estaminais para fins terapêuticos (em doenças incuráveis), dando corpo à tese de que «a reprogramação das células humanas é possível», segundo a empresa.

Mas o comissário europeu sustentou que «nem tudo o que é cientificamente possível e tecnologicamente realizável é necessariamente desejável ou admissível».

Philippe Busquin observou que «muitas questões científicas estão ainda em aberto» relativamente à clonagem de embriões humanos e, particularmente, à modificação da herança genética da humanidade.

Os investigadores afirmaram ter conseguido transferir o núcleo de uma célula para óvulos anteriormente retirados de mulheres que deram o seu acordo para esta investigação, produzindo os primeiros embriões humanos clonados conhecidos no mundo.

As vozes contra este avanço médico fizeram-se já ouvir, com o presidente norte-americano, George W. Bush, a reafirmar que se opõe à clonagem humana a «cem por cento».

As investigações privadas não foram ainda afectadas por esta decisão.

Também o Vaticano fez saber que «a clonagem é um acto abusivo e moralmente censurável». A igreja católica condena que se crie um indivíduo para depois o suprimir em benefício de outro, segundo monsenhor Mauro Cozzoli.

Contudo, os investigadores responderam por antecipação: «Cientificamente, biologicamente, as entidades que fabricamos não são indivíduos. Não passam de vida celular, não são vida humana»,

defendeu-se o director-geral da ACT, Michael West.

O geneticista português Carolino Monteiro defendeu o conceito de medicina regenerativa subjacente às experiências da ACT, por oposição ao de medicina reprodutiva.

«Entrámos numa nova etapa da medicina, passámos da medicina do João Semana para a regenerativa, aquela que recorre às células estaminais para regenerar órgãos, tecidos, incluindo o do sistema nervoso», enfatizou.

«Estamos a falar, não de clonagem reprodutiva, mas de clonagem terapêutica, aquela que permitirá, a partir de células estaminais, ou embrionárias, obter os diversos tecidos do corpo humano», precisou o especialista português.