A descodificação do genoma de um pequeno peixe de aquário revela aspectos até agora desconhecidos da evolução, como a existência de um antepassado comum com os seres humanos, informa hoje a revista Nature.
O peixe, chamado Tetraodon nigroviridis, tem vários genes em comum com o homem, dispostos de forma semelhante nos cromossomas, sugerindo que «ambos derivam de um mesmo antepassado» cuja organização genética «se manteve estável ao longo da evolução», explica o zoólogo Peter Holland na revista britânica.
Esse antepassado comum, que viveu há centenas de milhões de anos, seria um peixe delgado, com uma estrutura complexa de espinhas e outras características ainda por determinar, segundo Holland, catedrático e director adjunto do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford.
O Teatraodon, conhecido por «peixe-bola», tem três a 15 centímetros de largura e vive tanto em aquários como em águas ligeiramente salgadas da Ásia.
Possui 21 cromossomas e 300 milhões de bases (letras químicas que formam os genes), em contraste com os 23 pares de cromossomas e 3.000 milhões de bases dos seres humanos.
Dos 30.000 genes do peixe, aproximadamente 900 são comuns aos humanos e não foram ainda identificados, segundo esta nova investigação feita por uma equipa internacional de cientistas coordenada pelo geneticista da Escola Superior de Paris e do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) francês, Hughes Roest Crollius.
O Tetarodon, que se converteu na mais pequena espécie de vertebrado com genoma descodificado, resultou de um processo evolutivo peculiar que consistiu na «duplicação do material genético» dos seus antepassados e posterior ajustamento «a um número determinado de genes», precisou Holland.
Tal mecanismo permitiu que as proteínas do Tetraodon se diferenciassem das dos seus antepassados mais rapidamente do que no caso dos mamíferos, com uma evolução baseada em mutações ou pequenos erros na transmissão do material genético de pais a filhos.
A investigação descreve este processo de duplicação e ajustamento no Teleost, antepassado do Tetraodon cujo estudo pode revelar os antecedentes evolutivos de diversas populações de peixes e anfíbios.
Em resumo, a análise do genoma do Tetraodon permitiu revelar uma parte da história evolutiva da espécie humana desde o nosso último antepassado comum com os peixes.