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Emigrantes ainda esperam ajudas

O Ministro das Finanças anunciou a aprovação de uma linha de crédito, mas os portugueses afectados continuam à espera da sua entrada em vigor. No entanto, o maior pesadelo depois das cheias, continua a ser o desaparecimento de 14 crianças luso-venezuelanas.

Os portugueses vítimas das enxurradas no Estado de Vargas aguardam há quase 10 meses a linha de crédito prometida pelo Governo e aprovada na Assembleia da República em Fevereiro.

Mas o maior pesadelo depois das cheias de há um ano continua a ser o do desaparecimento de 14 crianças luso-venezuelanas, que continuam por encontrar. As crianças foram resgatadas pelas equipas de socorros, contudo, não sabem onde se encontram.

São cerca de 400 pessoas que continuam desaparecidas, sendo que uma centena são crianças, 14 delas luso-venezuelanas.

Receio de tráfico de menores

Teme-se agora o tráfico de menores. Já se fala da troca de uma criança por três milhões de bolívares (1.000.000$00). Para ajudar o reencontro foi criada a Associação de Familiares de Pessoas Extraviadas. Por todo o país estão espalhados cartazes com fotografias das caras das crianças desaparecidas.

A Associação tem cerca de 600 denúncias de crianças que foram resgatadas com vida, mas cujo paradeiro é desconhecido dos familiares.

Em declarações à agência Lusa, Deyanira Ortega, daquela Associação, frisou que dessas 600 denúncias, 119 correspondem a crianças, 14 das quais portuguesas, com idades compreendidas entre 1 e 15 anos.

Segundo Deyanira Ortega, uma das crianças luso-descendentes desaparecidas, Angely Sofia Nunes «foi vista em Valência», Estado Carabobo, «através de uma gravação em vídeo do sistema de segurança de Beco», um estabelecimento comercial, estando a associação «a trabalhar para localizar e recuperar a menina».

Os nomes dos luso-descendentes desaparecidos após as enxurradas do Estado de Vargas são:Kely Julião Botia (9 anos), Jenifer Freitas (12), Diana Gouveia da Silva (11), Andreia Gonçalves Bello (3), Fátima dos Santos Marrero (11), Ana dos Santos Marrero (15), Angely Sofia Nunes Gouveia (11), Marión Pereira de Sousa (12), Ricardi Alves Gouveia (1), Simón Julião Botia (5), Abel Julião Botia (7), José de Caires (9), Daniel Gonçalves (7) e Luís Ricardo Ramírez Rodrigues (1).

A Associação pertence à Fundação Venezuela sem Limites e é mantida pela contribuição de empresas privadas da Venezuela, foi fundada a 15 de Janeiro de 2000 para prestar assistência e desenvolver mecanismos que permitam localizar as pessoas que desapareceram durante as enxurradas de 1999.

Linha de crédito atrasada

Os atrasos têm originado vários protestos por parte dos emigrantes e deputados eleitos pelo Círculo Fora da Europa.

No mesmo dia em que uma emigrante, em nome da comunidade, ameaçava ocupar o consulado até à chegada dos apoios, Pina Moura anunciava ontem a aprovação do diploma que cria a linha de crédito para os portugueses vítimas das cheias no estado de Vargas.

A linha de bonificação de juros aos créditos para retoma da actividade terá, numa primeira fase, um montante até 1,5 milhões de contos, destinando-se um milhão de contos para bens empresariais e 500 mil contos para bens pessoais.

Para beneficiar desta linha de crédito a Direcção Geral dos Assuntos Europeus e Relações Internacionais do Ministério das Finanças recebeu 155 candidaturas.

Segundo José Lello, o processo teve que ser reformulado porque poderia correr-se sérios de riscos de não se estar a apoiar os que foram atingidos pelo drama.

O novo Cônsul Geral de Portugal em Caracas está a trabalhar no assunto e está atento a toda a situação para que Portugal possa apoiar cada vez mais os portugueses afectados.

No entanto, o deputado eleito pelo Círculo Fora da Europa, Caio Roque, criticou à agência Lusa o atraso da entrada em vigor da linha de crédito, considerando «intolerável» e «inadmissível» que os portugueses tenham

estado «cerca de um ano à espera e sem saber nada sobre a matéria».

Por outro lado, Caio Roque enalteceu o trabalho desenvolvido pelo

Consulado Geral de Portugal em Caracas, em conjunto com o movimento

associativo, instituições de solidariedade social e governo, no sentido de minimizar o sofrimento das pessoas atingidas.

Elogiando o apoio prestado por todos os cidadãos portugueses residentes na Venezuela e em Portugal, o parlamentar lamentou «profundamente que o Governo Regional da Madeira, quem mais beneficia com o envio das remessas dos emigrantes madeirenses, não tenha tido a mesma consideração que o Governo da República para com a comunidade na Venezuela».

O deputado socialista eleito pelo Círculo Fora da Europa deixou ainda um conselho aos emigrantes afectados: «Quando receberem a linha de crédito devem refazer as suas vidas mas não nas zonas atingidas».

Redação