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Sampaio: «Clima de suspeição tem de terminar»

Jorge Sampaio é o candidato PS para um segundo mandato na Presidência da República. Em entrevista à TSF, considera «muito corrosiva» a situação do Governo, comentando o caso da Fundação e de Camarate.

É a avaliação feita pelos portugueses no primeiro mandato que leva Jorge Fernando Branco de Sampaio a recandidatar-se.

Nascido em Lisboa, 61 anos, licenciado em Direito, tem no currículo a experiência como secretário-geral do Partido Socialista, presidente da Câmara de Lisboa e um mandato na Presidência da República.

Desde dia 13 deste mês, é candidato a mais cinco anos no cargo, apoiado pelo PS. Como ambição elege um Portugal com mais justiça social, desenvolvimento económico, educação e formação da cultura portuguesa e consolidação da posição do país no mundo.

«Fiz este mandato solitariamente. Não pedi nada a ninguém nem ninguém me pediu coisa nenhuma», avalia Sampaio que, com um percurso de 40 anos na política, considera-se «apetrechado» pela experiência e conhecimento do país. Salienta ainda o seu desempenho na questão de Timor, Macau e na relação entre Governo e partidos, num «papel discreto mas permanente».

Quanto à presente candidatura, não teme os efeitos do desgaste do PS e diz confiar nos «portugueses profundos». Contra a inevitabilidade do segundo mandato Sampaio diz mesmo «Não tenho culpa de haver faltas de comparência nestas eleições», refindo-se a Freitas do Amaral, Cavaco Silva, entre «outros que equacionaram ser candidatos».

No livro que se prepara para lançar segunda-feira, aponta caminhos urgentes a seguir, como a reforma do sistema político, a reforma fiscal e da administração pública.

«Clima de suspeição tem de terminar»

O Governo vive uma «situação muito corrosiva». Sampaio afirma mesmo que «o clima de suspeição tem de terminar», apesar de reconhecer uma desconfiança secular em relação ao poder central.

Comentando o caso da Fundação para a Prevenção e Segurança, concordou com a atitude do actual ministro da Administração Interna de pedir um parecer ao conselho consultivo da PGR, no entanto, a decisão devia ter sido tomada há mais tempo.

Para combater a morosidade do sistema são precisas novas regras e não fundações, subentende o candidato. «Isto foi ligeiro e não pode ser assim. Nós não podemos ter ligeireza nestas coisas quando o ambiente está corrosivo». As situações têm de ter consequências, mas «não vamos transformar isto como arma para outras coisas».

Durante a entrevista, Sampaio lançou um apelo à administação geral e à administração do território e à Procuradoria Geral da República que esclareça estas situações o mais depressa possível, já que descredibiliza a política e o Governo perante os cidadãos.

Nota ainda que este incidente «apagou completamente a Cimeira de Nice».

Sá Fernandes elogiado pela reforma fiscal, criticado por Camarate

Não se pode estar nos dois lados ao mesmo tempo. «Independentemente daquilo que pode fazer como cidadão, há coisas insólitas que não devem poder fazer-se», comenta Jorge Sampaio, começando por salientar que Ricardo Sá Fernandes «tratou muito bem da reforma fiscal».

Afastando as acusações de corporativismo, Sampaio disse que se pode criticar decisões mas elas têm de ser acatadas. «Tem de se transmitir às pessoas que os magistrados não são intocáveis mas não podemos interferir nem criar dificuldade no processo decisório».

Sobre o caso deixou o anseio de que ele possa resolver, nem que seja com uma interrogação, recordando o que sucedeu ao assassínio de J.F. Kennedy. Da actuação do ministro António Costa faz uma avaliação positiva.

Reacção de Sampaio às críticas sob observação

Considerado uma pessoa que se emociona com facilidade, os assessores receiam que o candidato se «irrite». Sampaio responde que vibra com as coisas mas que tem serenidade no momento da decisão.

Não aceita as críticas de colagem ao PS, com meio Governo na lista da Comissão de Honra, e não deixou passar em branco quando Feliciano Barreiras o apelidou como «cabeça do polvo socialista».

A respeito da Comissão de Honra, o candidato socialista prefere ressaltar as presenças de todas as áreas, sobretudo de Maria de Lurdes Pintassilgo. Como ambições para o seu eventual segundo mandato têm «que haja muita força de inovação para o nosso sistema produtivo e a educação ao longo da vida para os portugueses».

Redação