A Gafanha da Boa Hora vai boicotar as eleições presidenciais. Os populares defendem que a Ria de Aveiro precisa de mais atenção do Estado, e estão contra a destruição da orla costeira, a construção de uma estrada e o Plano Director Municipal.
A população da Gafanha da Boa Hora, Vagos, decidiram ontem à noite boicotar as eleições presidenciais de 14 de Janeiro, para chamar a atenção para as ameaças na zona da Ria de Aveiro.
O boicote foi decidido numa reunião que contou com duas centenas de residentes e tem o apoio declarado do presidente da Junta de Freguesia, Manuel Bogalho, que se queixa de ser impotente para resolver, pelas vias institucionais, as reclamações do povo.
Os motivos invocados são a falta de protecção da orla costeira, a demora na segunda fase da limpeza do Canal da Ria de Aveiro e as limitações do Plano Director Municipal (PDM) à construção na estrada que liga à Gafanha do Carmo e à Praia de Mira.
Ria precisa da atenção do Estado
No que respeita à protecção da orla costeira, os promotores do boicote afirmam que o Estado nada faz para suster as investidas do mar, apesar de reconhecer que se trata de uma zona de risco.
Acusam ainda o Executivo de ajudar a piorar a situação, ao arrecadar receitas com a extracção de areias no Porto de Aveiro. Antes, as areias eram transportadas pelo mar até à zona da Vagueira, fazendo a recarga do cordão dunar.
A legalização da construção na que é conhecida por estrada «da alta tensão», que liga a Boa Hora à Gafanha do Carmo e à Praia de Mira é outra das reivindicações.
«No concelho de Vagos, 70 por cento da área é Reserva Ecológica Nacional, o que é bastante limitativo. As pessoas querem construir e o Plano Director Municipal, que está há anos em processo de revisão, não deixa fazer nada», disse à Lusa o presidente da Junta.
Segundo Manuel Bogalho, trata-se de uma luta contra a burocracia com o objectivo de legalizar a construção ao longo de nove quilómetros de estrada, onde já existem «dezenas de casas ilegais».
A segunda fase do desassoreamento da Ria de Aveiro, no que respeita ao canal de Mira, é a terceira reivindicação do movimento popular.
Em 1998, quando das dragagens da primeira fase, terá havido a promessa dos trabalhos avançarem para a fase seguinte, o que até agora não aconteceu, porque entretanto mudou a entidade com jurisdição na área.
«Em certos sítios o nível da água anda acima dos terrenos de cultivo e há zonas de lodo, perigosas para os pescadores, que precisam de uma limpeza», explicou à Lusa um dos presentes.