PS e PC não ficaram convencidos com os argumentos de Morais Sarmento e insistem que o Governo tenta condicionar os conteúdos da televisão pública. Pacheco Pereira diz que o ministro da Presidência teve coragem de dizer aquilo que toda a gente sabe.
Morais Sarmento garantiu que o Governo não vai demitir-se da sua responsabilidade de «definir o modelo de serviço público», salientando que uma coisa é a definição por parte do Governo do que é o «modelo» de serviço público, outra coisa é «a intervenção directa nas redacções».
No entanto, a oposição não se mostrou convencida com os argumentos do Executivo. António Filipe, deputado do PCP, disse que, na realidade, a intenção do Governo é regular a comunicação social.
«No dia em que o Governo possa interferir sobre os conteúdos da televisão pública, essa independência estará ferida de morte e a liberdade de imprensa estará ameaçada», sublinhou António Filipe.
Para Augusto Santos Silva, do PS, a intervenção do ministro na Assembleia da República não passou de uma manobra de diversão para esconder o objectivo de condicionar, duplamente, os órgãos de comunicação social.
«O país assiste, sucessivamente, a uma dupla operação de condicionamento político da comunicação social dirigida pelos dois ministros que agora se sentam na bancada do Governo», sustentou Augusto Santos Silva.
Pacheco Pereira defende Morais Sarmento
Entretanto, Pacheco Pereira, que participou numa conferência sobre comunicar a direito, saiu em defesa do ministro da Presidência, referindo que «o ministro, provavelmente, não devia ter dito o que disse, mas o que ele disse é a realidade».
O ex-eurodeputado social-democrata considerou que Morais Sarmento disse o que todos sempre souberam, mas que nunca ninguém assumiu.
Pacheco Pereira frisou que a partir do momento em que o Estado controla os meios de comunicação social, passa a ter «uma voz decisiva na programação das televisões».
«Até agora o que não tinha acontecido é que um ministro o dissesse», realçou Pacheco Pereira, salientando que as grandes opções dos órgãos de comunicação social do Estado tiveram sempre «a mão» do Governo.
O ex-eurodeputado do PSD lançou um desafio a José Sócrates, afirmando que gostava de «o ouvir dizer que se o PS fosse Governo acabava com grande parte do nosso sistema público de comunicação».