O ex-apresentador de televisão Carlos Cruz diz numa entrevista hoje publicada pelo Jornal de Notícias que está envolvido no processo Casa Pia «para desviar as atenções de qualquer coisa» muito grave relacionada com a instituição.
«Não tenho dúvidas que estou neste processo para desviar as atenções de qualquer coisa, algo de muito grave que tem a ver com a Casa Pia», diz o ex-apresentador e arguido no processo, na entrevista concedida ao JN a propósito do lançamento do seu livro «Preso 374».
Sem estabelecer relações, Carlos Cruz refere que a Casa Pia «tem um património imobiliário escandalosamente notável» e que estão «provados, por documentos internos, consumos de droga preocupantes».
«Onde há consumo há tráfico; onde há tráfico há negócio; e onde há negócio há dinheiro», afirma Carlos Cruz, que diz não acreditar «que as estruturas da investigação criminal em Portugal não saibam disso».
Na entrevista, o ex-apresentador de televisão justifica que está no processo «porque fazia falta» uma figura pública.
Sobre o livro que se prepara para lançar, Carlos Cruz diz ser a sua defesa perante o tribunal da opinião pública que o acusou e a oportunidade de contar as suas «angústias», «pensamentos» e «análises sobre o processo» que a então ministra da justiça, Celeste Cardona, não lhe permitiu fazer.
No livro, o ex-apresentador e arguido do processo, diz ter feito «aquilo que alguns jornalistas deveriam ter feito», nomeadamente a análise das contradições das testemunhas que o incriminaram.
Carlos Cruz dá ironicamente razão do PGR
Na entrevista ao Jornal de Notícias, Carlos Cruz dá, ironicamente, razão ao Procurador-Geral da República, ao dizer que a notoriedade dos arguidos do processo motivou diferenças no tratamento dos casos de pedofilia da Casa Pia e dos Açores.
«Há uma grande diferença entre prender o Carlos Cruz e prender o Farfalha (principal arguido no processo dos Açores). Para prender o Farfalha fez-se uma investigação orientada e dirigida pela Polícia Judiciária. Uma investigação séria, serena discreta, com recolha de fortes indícios, filmagens, fotografias, escutas telefónicas», diz.
«No meu caso - prossegue Carlos Cruz -, não há uma escuta telefónica, uma fotografia, um vídeo, um depoimento, além do grupo de seis ou sete rapazes que se conhecem há longo tempo».
Na entrevista, em que acusa o juiz Rui Teixeira de estar «de tal maneira comprometido com o processo» a ponto de não o poder libertar, Carlos Cruz conta que não conhecia nenhum dos outros arguidos do caso, com excepção do embaixador Jorge Ritto, que um dia lhe terá sido apresentado.
Também a revista Sábado publica hoje uma entrevista com Carlos Cruz, onde o ex-apresentador admite que vive «uma situação económica difícil, mas não impossível», que não põe a hipótese de vir a ser condenado, e diz que no fim do processo não sabe se fica em Portugal.