O director do Expresso, José António Saraiva, acusou esta terça-feira o poder político de ter falta de «calo democrático» e considerou que isso leva o Governo a procurar intervir nos meios de comunicação social que têm o Estado como accionista.
«Há neste momento uma pressão nos meios que têm o Estado como accionista, isso é evidente», declarou José António Saraiva aos jornalistas, à saída de uma audiência na Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) a propósito do chamado «caso Marcelo».
«Mas isso releva da extrema fragilidade do poder político que, vendo-se acossado, tenta intervir de forma incorrecta nessa área», completou o director do Expresso, defendendo que o poder político em Portugal «não ganhou calo democrático» e portanto «demonstra nervosismo» e «reage com excesso à crítica da comunicação social».
Na opinião de José António Saraiva, que considerou «uma fantasia e um deslize» do ministro dos Assuntos Parlamentares a sugestão de uma cabala entre o Expresso, o Público e o ex-comentador da TVI Marcelo Rebelo de Sousa contra o Governo, há actualmente pressões governamentais «indirectas e directas» sobre os média.
«Há pressões indirectas e directas como temos visto todos os dias, por exemplo na tentativa de mudar a direcção do Diário de Notícias. Isso é uma pressão directa evidente», apontou.
O director do Expresso desvalorizou, no entanto, essas pressões, afirmando que «todas as tentativas de interferência do poder político sobre os média têm sido tiros saídos pela culatra».
Quanto a pressões sobre o Expresso, José António Saraiva reconheceu a existência de algumas, «por parte do poder económico», às quais disse que «tanto o dr. Balsemão como os directores dos vários meios têm obviamente resistido».
Em relação à eventual «cabala» entre o seu jornal, o Público e Marcelo Rebelo de Sousa, sugerida pelo ministro Rui Gomes da Silva, o director do Expresso adiantou o essencial do seu depoimento à porta fechada na AACS.