A Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) ouve hoje pela segunda vez o presidente da administração da TVI, Miguel Paes do Amaral, sobre os motivos da saída de Marcelo Rebelo de Sousa de comentador daquela estação.
A audição de Miguel Paes do Amaral será às 15:30 horas, à porta fechada, e a AACS decidiu ouvi-lo novamente depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter desmentido a versão dada pelo administrador da TVI sobre os motivos da sua saída daquela estação.
No Parlamento, o presidente da TVI declarou ter sido «surpreendido» pela decisão de Marcelo Rebelo de Sousa, uma vez que a conversa entre os dois, na véspera dessa saída ser anunciada, serviu para pedir conselhos jurídicos sobre a estratégica da TVI ao ex-presidente do PSD, não tendo qualquer relação com os seus comentários políticos.
Dois dias depois, a 27 de Outubro, na AACS, Marcelo Rebelo de Sousa contestou essa versão e disse que Miguel Paes do Amaral não lhe pediu quaisquer conselhos jurídicos, mas antes lhe propôs que moderasse os seus comentários em relação ao Governo, no âmbito de uma reestruturação da informação que o presidente da Media Capital defendia na estação.
«Miguel Paes do Amaral disse discordar em concreto da orientação da TVI em termos de informação e defendeu uma reformulação interna como consequência dessa opinião», declarou, na altura, Marcelo Rebelo de Sousa, ao explicar porque saiu.
Segundo o ex-comentador da TVI, para Miguel Paes do Amaral era «inaceitável que houvesse uma informação e uma opinião sistematicamente anti-governamentais» numa televisão, embora isso fosse «aceitável num jornal».
Na versão de Marcelo, o administrador da estação ter-lhe-á lembrado ainda que a RTL se preparava para tomar uma posição no grupo e que as licenças de televisão são atribuídas pelo Estado.
No mesmo dia, o presidente da Media Capital falou no telejornal da TVI, afirmando que nunca interferiu «na informação» da estação e que as declarações do ex-presidente do PSD «não fazem qualquer sentido».
«Sempre respeitei a autonomia da direcção de informação e subscrevo a linha editorial do canal - uma informação independente, isenta, rigorosa, objectiva e com uma opinião pluralista», salientou Miguel Paes do Amaral.
No âmbito do chamado «caso Marcelo» e das relações entre a comunicação social e os poderes político e económico, a AACS já ouviu também duas vezes o director-geral da TVI, José Eduardo Moniz, além de Marcelo Rebelo de Sousa e do ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, que criticou os comentários do ex-presidente do PSD dois dias antes da sua saída.
A AACS poderá ainda anunciar hoje novas audições sobre este caso, que se arrasta há mais de um mês, embora preveja que o processo esteja concluído na próxima semana.