O Ministro do Desporto, Juventude e Reabilitação, Henrique Chaves, anunciou, este domingo, a demissão do Governo, quatro dias depois de ter assumido o cargo, alegando falta de «lealdade e verdade» do primeiro-ministro Santana Lopes.
Num comunicado enviado à Agência Lusa, Henrique Chaves até há poucos dias ministro-adjunto do primeiro-ministro, refere que não concebe «a vida política e o exercício de cargos públicos sem uma relação de lealdade entre as pessoas», nem «o exercício de qualquer missão privada ou pública, sem o mínimo de estabilidade e coordenação».
Henrique Chaves, que não pretende de momento prestar mais declarações, responsabilizou, no referido comunicado, o primeiro- ministro pela sua demissão, acusando-o de «grave inversão dos valores da lealdade e verdade» e revelou já ter tido intenções de se demitir na altura da remodelação (quarta-feira).
Henrique Chaves diz que nunca teve oportunidade de coordenação política
Henrique Chaves acusou hoje Santana Lopes de não lhe ter dado «oportunidade de exercer qualquer função ao nível da coordenação do Governo» como ministro Adjunto.
«Convidado para ministro-adjunto, nunca me foi dada a oportunidade de exercer qualquer função ao nível da coordenação do Governo, própria das funções inerentes a essa pasta", refere no comunicado, acusando Santana Lopes de nunca lhe ter dado condições para o fazer.
«Estando as funções de ministro-adjunto exclusivamente dependentes do primeiro-ministro, só a este cabe a responsabilidade de conceder, ou não as condições para o exercício desse cargo, o que no meu caso nunca aconteceu», escreve o ministro demissionário.
Henrique Chaves deixou na passada quarta-feira de ser ministro- adjunto do primeiro-ministro, cargo que passou a ser ocupado por Rui Gomes da Silva, numa inesperada mudança no Governo anunciada minutos antes da tomada de posse de quatro secretários de Estado.
«Em face do referido esvaziamento de qualquer papel de coordenação do Governo - um dos pressupostos do acordo de aceitação do cargo para que fui nomeado - e confrontado com um cenário de remodelação ministerial, era minha intenção aproveitar a oportunidade para abandonar funções de imediato», continua.
Henrique Chaves sente-se enganado
«Foi-me no entanto traçado um cenário nos termos do qual a remodelação resultaria de uma pressão de véspera, alegadamente por quem, para tanto, tem poder institucional, a qual teria por objectivo forçar a prevenção do cometimento de novos erros graves, geradores de instabilidade social e institucional, por quem, sem resguardo, os vinha cometendo», refere o texto.
Henrique Chaves diz que acedeu a ficar «tendo mantido os pelouros que são conhecidos», mas que depois percebeu que o cenário que lhe foi apresentado como sendo «da véspera à noite» estava a ser «delineado semanas antes, de forma detalhada e reiterada» sem o seu conhecimento.
«Em segundo lugar, um dia depois, foi-me comunicada a intenção, alegadamente firme de se proceder à demissão de um outro ministro», afirma.
Considerando que lhe faltaram à verdade, «de uma forma muito grave», Henrique Chaves apresentou a demissão ao primeiro-ministro.
«Compreenderão que perante tão grave inversão dos valores de lealdade e verdade, não tive qualquer dúvida em apresentar a minha demissão preservando a minha dignidade», diz no comunicado.