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PCP desafia PS para alternativa à esquerda

O XVII Congresso do PCP terminou, este domingo, com um desafio ao PS para que mude a sua estratégia de forma a garantir condições para uma aliança «verdadeiramente» à esquerda com os comunistas e derrubar o Governo PSD/CDS-PP.

No seu primeiro discurso como secretário-geral do partido, Jerónimo de Sousa manifestou a disponibilidade do PCP para uma convergência à esquerda com o PS, mas impôs como condição uma mudança na política seguida pelos socialistas.

«O PS não dá resposta à contradição fundamental que é a de saber se é possível uma alternativa verdadeiramente de esquerda, mantendo e executando uma política de direita», afirmou.

O PS, tanto pela voz de Edite Estrela como de Vieira da Silva, presentes na sessão de encerramento do Congresso, desvalorizou as críticas e lembrou que o partido já definiu recentemente a sua estratégia ao consagrar José Sócrates como líder, em Guimarães.

No final do Congresso, o histórico Domingos Abrantes explicou por que o Bloco de Esquerda foi ignorado nos três dias de trabalhos: «é uma peça menor» na construção de uma alternativa de esquerda.

A bloquista Ana Drago discordou desta opinião e disse que é «lamentável» que o PCP não considere o BE, o partido «que maior crescimento político teve na esquerda nos últimos anos».

O secretário-geral do PCP foi eleito na madrugada de hoje pelo Comité Central (CC), de braço no ar, sem votos contra e com quatro abstenções.

Jerónimo de Sousa já conquistara o Congresso, no sábado, quando da tribuna reiterou a natureza de classe do PCP, a sua identidade marxista-leninista, o seu modo de funcionamento baseado no centralismo democrático e a sua ligação às classes trabalhadoras. Foi acolhido com longos aplausos.

Carlos Carvalhas, que pôs fim a 12 anos de liderança neste Congresso, deixou logo no primeiro dia alertas contra «autoritarismos» e «derivas de mando que ainda se manifestam no PCP», mas também rejeitou a capitulação ideológica do partido, num recado aos que defendem uma nova orientação.

Sobre a política de alianças, Carvalhas e Jerónimo de Sousa estiveram em sintonia ao colocar do lado do PS a responsabilidade pela inexistência de uma convergência à esquerda.

Essa ideia está consagrada no projecto de resolução política aprovado no Congresso, com dez votos contra - um dos quais do vice-presidente da Assembleia da República António Filipe - e quatro abstenções.

O Comité Central foi eleito pela maioria dos 1297 delegados, que votaram pela primeira vez de forma secreta, recorrendo ao método electrónico, com 45 votos contra (menos do que no último congresso) e 24 abstenções.

O XVII Congresso aprovou ainda moções a exigir a revogação da lei dos partidos, a alteração da lei do aborto, a rejeitar a Constituição europeia e a pergunta acordada entre PSD/CDS-PP e PS para o referendo.

O Congresso terminou simbolicamente com um longo abraço entre Jerónimo de Sousa e Carlos Carvalhas.

Redação