A comissão multidisciplinar de peritos encarregues de investigar a tragédia de Camarate concluiu que a queda do Cessna que vitimou Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa resultou de sabotagem. Ainda assim, o relatório não foi subscrito por todos os especialistas envolvidos.
O relatório da comissão multidisciplinar de peritos, encarregue de investigar a tragédia de Camarate, concluiu que a queda da aeronave que transportava o então primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro ficou a dever-se a «um acto de sabotagem».
O documento foi apresentado esta segunda-feira aos deputados da VIII Comissão de Inquérito sobre Camarate.
Segundo Nuno Melo, presidente da Comissão de inquérito, o relatório especifica que o despenhamento do Cessna encontra-se «não em razões acidentais mas sim no rebentamento de um engenho de explosivos, instalado sob o pavimento da cabine de pilotagem com potencia suficiente para danificar cabos de comando e causar danos na integridade física dos tripulantes».
As conclusões do relatório são baseadas em análises químicas feitas aos destroços do avião, dados novos analisados sobre amostras novas e não sobre amostras de outras peritagens conforme salientou Nuno Melo.
A comissão prepara-se agora para anunciar e fazer votar, ainda antes da dissolução do parlamento, as conclusões definitivas dos trabalhos de inquérito.
Terça-feira, a comissão volta a reunir-se para ouvir pessoalmente, os peritos do relatório.
Relatório não foi subscrito por todos os peritos
No entanto, as conclusões do relatório não receberam o apoio unânime de todos os peritos.
Segundo a introdução da súmula do relatório, apenas 7 dos 12 peritos que constituíram a comissão multidisciplinar subscreveu as conclusões do mesmo.
Maria João Aleixo (perita em Medicina Aeronáutica), e Carlos Freitas Branco, piloto de aeronaves, optaram por elaborar um relatório individual sobre as investigações realizadas, ainda não entregue.
A comissão refere que «perante o anúncio da dissolução da Assembleia da República, a apresentação deste relatório tornou-se particularmente urgente a fim de serem evitados os inconvenientes emergentes da eventual caducidade da missão de que os peritos foram incumbidos».
Por esta razão, o relatório não foi sujeito à apreciação e pronúncia dos peritos estrangeiros que integram a comissão, avança a introdução do relatório.
Familiares das vítimas congratulam-se com relatório
As famílias das vítimas que assistiram aos trabalhos da comissão de inquérito consideraram que este é um dia histórico.
Augusto Cid, representante das famílias das vítimas de Camarate, espera agora que a justiça ainda possa pronunciar-se em julgamento. O advogado alerta, no entanto, para o perigo de prescrição e salienta que este «é o momento certo para avançar para julgamento.
Alexandre Patrício Gouveia, familiar de uma das vítimas, considera que este é um dia histórico, já que o relatório vem confirmar que o que aconteceu em Camarate «foi um crime».