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Bibi "arrependido" prossegue confissões

O julgamento do processo Casa Pia prossegue, esta terça-feira, no Tribunal do Monsanto, Lisboa, com o depoimento de Carlos Silvino («Bibi»), que na última sessão que implicou os restantes seis arguidos como culpados de abuso sexual de menores.

O ex-motorista da Casa Pia, réu por mais de 600 crimes de abuso sexual de menores, já assumiu no julgamento o papel de «arrependido», ao pedir desculpa aos jovens, ao confirmar a veracidade dos factos indicados na pronúncia e ao incriminar os outros arguidos: Carlos Cruz, Jorge Ritto, Ferreira Diniz, Hugo Marçal, Gertrudes Nunes e Manuel Abrantes.

«Tanto comigo como com os restantes arguidos sucederam (os factos). É verdade senhora doutora tudo o que se passou», foram frases proferidas por «Bibi» no seu primeiro dia de declarações, que decorreu sem a presença dos restantes arguidos, mas aberto à Comunicação Social.

Sobre futuros esclarecimentos a prestar ao tribunal, Carlos Silvino deixou o mote, ao dizer antecipadamente: «Eu levei os rapazes para certas casas. Tenho as datas (dos locais) onde eles iam para fazer festas e forrobodós e sexo à mistura. Mais à frente direi tudo».

Ao falar pela primeira vez em julgamento, «Bibi» surgiu com um discurso estruturado e de «vitimização», centrado na sua infância na Casa Pia, onde disse ter entrado, em 1960, e sido violado entre os quatro anos e meio e os 13 por «dois professores, dois educadores, cinco alunos mais velhos e um padre».

Carlos Silvino transmitiu também a ideia de que os alunos mais novos eram frequentemente abusados pelos mais velhos em todos os colégios da Casa Pia, uma descrição comprometedora da instituição e que levou Adelino Granja, ex-casapiano e advogado de uma das vítimas («Joel»), a dizer que «Bibi» colocou «tantos ex-alunos numa situação muito má, porque está a traçar um cenário de que todos violavam os menores».

O segundo dia de audição de «Bibi» chegou a estar marcado para segunda-feira, mas a sessão acabou por ser adiada para hoje a pedido do seu advogado, por dificuldades em conferenciar com o arguido durante o fim-de-semana.

A audiência de hoje poderá também assinalar a despedida do julgamento do Tribunal de Monsanto, depois de o Ministério da Defesa autorizar a utilização, a partir de Janeiro, do Tribunal Territorial Militar de Lisboa, situado no Campo de Santa Clara, em Lisboa, para a continuação do julgamento, que, com as férias judiciais de Natal, só deve ser retomado em Janeiro.

O julgamento começou a 25 de Novembro no Tribunal da Boa Hora, mas devido às más instalações foi transferido imediatamente para Monsanto, o que também não agradou aos advogados, que insistiram na falta de condições e pediram uma mudança para o ex-tribunal militar.