O dirigente socialista Jaime Gama vincou este sábado que Sócrates abriu o Governo e listas de deputados do PS a quem se opôs e ele em 2004 e que o futuro do partido não pode ser o seu passado.
As referências de Jaime Gama à integração política de adversários de Sócrates no congresso de Guimarães, em 2004, foram feitas no discurso de apresentação da moção do secretário-geral do partido, intitulada "O rumo do PS: Modernizar Portugal".
Sem nunca se referir em concreto a dirigentes que estiveram ao lado de Manuel Alegre na disputa interna de 2004, o presidente da Assembleia da República, num discurso cheio de recados para o interior do partido, vincou que «a composição do Governo é mais alargada do que a maioria que apoiou no congresso de Guimarães» o actual secretário-geral.
Jaime Gama estendeu depois essa alegada abertura de Sócrates à presença de «muitos independentes qualificados» no executivo, mas também «à composição das listas de deputados» antes das eleições legislativas de 2005, onde «há uma significativa presença de mulheres».
«Houve um alargamento na base que apoia o secretário-geral do PS. Muitos camaradas que estiveram contra no congresso de Guimarães tomaram agora a opção de apoiar a moção do secretário-geral», sublinhou Gama.
Ao longo do seu discurso, o presidente da Assembleia da República nunca se referiu directamente ao ex-candidato presidencial Manuel Alegre, nem à dirigente socialista Helena Roseta, que apresentou uma moção alternativa à do líder.
No entanto, Gama deixou vários recados, dizendo que «mais vale trabalhar para o país do que para pequenos eventos», antes de citar o romano Marco Aurélio.
«Ostentemos na acção política apenas aquilo que deve ser ostentado», referiu, com os delegados em profundo silêncio.
Ainda na mesma lógica de avisos para o interior do partido, o presidente da Assembleia da República frisou depois que o «futuro do PS não pode ser o seu passado», que o partido «não se pode aprisionar pelos chavões da esquerda imobilista» e que tem de haver «um equilíbrio entre o sonho e a realidade».
«Sempre o diálogo, mas também sempre a decisão; sempre o espírito crítico, mas também sempre o rumo certo, que é essencial para a coerência», declarou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Mário Soares e de António Guterres.
Ainda de acordo com Gama, «se é bom que existam diferentes percepções no PS, é igualmente importante que todos também saibam contribuir para as necessárias sínteses à chegada, porque se trata de um partido político».
O presidente da Assembleia da República referiu-se ainda à linha política defendida para o PS nos próximos dois anos, ponto em que se manifestou confiante que «a maioria dos portugueses apoia a modernização e política reformista» do actual executivo.