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Herman diz não conhecer "Bibi" nem testemunha principal

O actor Herman José declarou esta segunda-feira em tribunal nunca ter conhecido o principal arguido no processo Casa Pia, Carlos Silvino (Bibi), nem um dos jovens que incrimina o apresentador de televisão Carlos Cruz e outros arguidos.

Na qualidade de testemunha, o humorista referiu que, antes deste caso se tornar público, só conheceu de «passagem» o médico João Ferreira Diniz de um programa televisivo, afirmou ter estado uma vez num jantar da Unesco em Paris com o diplomata Jorge Ritto e conhecer Carlos Cruz há largos anos, embora nunca fossem íntimos ou particularmente amigos.

Herman José negou que alguma vez tivesse tido conhecimento que "Bibi" tivesse levado qualquer miúdo da Casa Pia à sua casa de Azeitão, revelando que frequenta pouco esta moradia que não possui campainha, sendo os caseiros que abrem a porta.

O humorista, que chegou a ser arguido na fase inicial do processo por acto homossexual com adolescente, mas foi ilibado, negou também que, durante a sua vida, tivesse travado conhecimento com alunos da Casa Pia, embora salientasse que no Natal de 2002 participou num espectáculo na instituição, onde estariam muitas centenas de jovens.

Nessa perspectiva, de artista e figura pública, admitiu, em resposta a uma pergunta do procurador João Aibéo, ser «passível de conhecer toda a gente» já que como actor tem de comunicar com o público.

Enfatizando não ser íntimo ou particularmente amigo de Carlos Cruz, tanto mais que «nunca privaram juntos» e sempre foram concorrentes como profissionais, Herman José alegou que, do que soube da vida do apresentador de televisão, nada lhe faria supor que pudesse praticar quaisquer crimes de natureza sexual contra menores.

«Das muitas vezes que trabalhei com Cruz se tivesse a mínima suspeição sobre isso, recusar-me-ia a continuar a fazê-lo», afirmou, acrescentando que «nunca teve a mais pequena referência» de que Cruz pudesse de alguma forma estar envolvido em abuso de menores.

Questionado sobre o caso de dois menores encontrados na casa do embaixador Ritto no início dos anos 80 e sobre alegados abusos ocorridos na Torre das Argolas, na Costa da Caparica, em 1995, Herman José alegou desconhecimento de situações concretas, dizendo que na década de 80 estava muito ocupado com os seus programas para ter sabido de algo.

Quanto ao jovem que incrimina Cruz e outros arguidos e que é apontado como "o braço direito" de Bibi, o actor disse ter «a convicção de que não o conhece», afirmando que chegou a ver uma pequena fotografia do mesmo quando teve cópias do processo como arguido.

José António Barreiros, advogado da Casa Pia, quis saber do humorista porque razão este defendia que Cruz não estava envolvido em abusos sexuais quando nem sequer eram amigos ou privavam juntos, ao que a testemunha respondeu que como «qualquer criador sempre teve curiosidade intelectual em saber tudo» sobre o apresentador, nem que fosse por «coscuvilhice».

Durante o seu depoimento, Herman José explicou ainda ao tribunal conhecer o médico Ferreira Dinis de um programa televisivo em que participou o actor já falecido Camacho Costa, realizado em 2001, em que o arguido foi convidado na qualidade de médico daquele artista já então bastante doente e debilitado.

Herman José disse ainda que falou previamente uma vez ao telefone com Ferreira Dinis sobre o programa com Camacho Costa, justificando que o fez a pedido da taróloga Maya, que também era cliente do mesmo médico.

Questionado pelo procurador João Aibéo por que razão Ferreira Dinis pretendia falar com ele, Herman José justificou que o médico tinha «um especial encantamento em falar com artistas», mas instado a desenvolver a ideia limitou-se a dizer que soubera de tal facto através de Maya.

O artista foi ouvido pelo colectivo de juízes, presidido por Ana Peres, durante cerca de uma hora e, à saída do tribunal, não se furtou aos jornalistas, explicando os motivos porque respondeu a todas as perguntas.

Redação