Os principais candidatos às eleições presidenciais, que decorrem este domingo na Guiné-Bissau já votaram e os mais de 538 mil eleitores estão a participar em massa, registando-se longas filas nas mais de 300 assembleias de voto existentes na capital guineense.
A segurança foi apertada nas três mesas de voto, onde Malam Bacai Sanhá, João Bernardo "Nino" Vieira e Kumba Ialá depositaram os seus votos.
O grande número de jornalistas, a par das autoridades policiais, sobretudo nos casos de "Nino" Vieira e Kumba Ialá, gerou grande confusão na altura da votação dos dois candidatos, com jornalistas agredidos e algum material de trabalho a ser destruído.
Entre os três favoritos, apenas Kumba Ialá não falou aos jornalistas, depois de manter em segredo a hora em que iria votar.
Só em cima da hora é que alguns jornalistas, que o aguardavam junto à sua residência, assistiram à saída do ex-presidente, deposto no golpe de Estado de Setembro de 2003, no meio de um forte aparato de seguranças pessoais.
À mesma hora que Kumba votava no bairro de Antula, subúrbios de Bissau, Bacai Sanhá, apoiado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder) e "Nino" Vieira, independente, depositavam também o seu voto nas urnas.
«Hoje é um grande dia para a Guiné-Bissau. Vamos ganhar», afirmaram quer Bacai Sanhá, que votou numa mesa instalada defronte do Grande Hotel, quer "Nino" Vieira, que depositou o seu voto numa urna colocada em Bissau Velho.
Bacai Sanhá, contudo, acabou por ir mais longe e garantiu que, se for eleito, vai promover a unidade entre Cabo Verde e a Guiné- Bissau, numa crítica implícita a "Nino" Vieira que, quando protagonizou o golpe de Estado de 1980, afastando Luís Cabral do poder, rompeu também a ligação histórica entre os dois Estados.
Sanha confirmou também que, caso vença a votação de hoje, convidará tanto "Nino" Vieira como Kumba Ialá para seus «conselheiros principais» na Presidência da República, «em nome de uma verdadeira reconciliação nacional».
Bacai Sanhá, muçulmano, trajava uma tradicional veste guineense muito utilizada por Amílcar Cabral, "pai" das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, enquanto "Nino" Vieira que, não professa a religião muçulmana, vestia roupagens tipicamente islâmicas e, pela primeira vez em público, o tradicional "nafó" (uma espécie de fez, muito utilizado pelos marroquinos).
«Estou satisfeito por ter cumprido o meu dever e espero que tudo corra pelo melhor para o bem do país. Vou esperar pelos resultados e aguardo uma grande participação dos eleitores», afirmou "Nino" Vieira aos jornalistas, ladeado pela mulher, Isabel Romano Vieira, que repetia incessantemente que o seu marido será «o vencedor».
A maioria dos restantes candidatos tem votado também em Bissau, onde as urnas abriram com ligeiros atrasos, o mesmo sucedendo em outros pontos do país, onde a afluência tem sido elevada e se registam grandes filas de eleitores.
No terreno estão os mais de 250 observadores eleitorais, que se encontram deslocados na grande maioria do país, incluindo em zonas mais remotas e de difícil acesso.
Os primeiros resultados da votação, segundo o CNE, só deverão ser conhecidos na próxima quarta-feira, embora Malam Mané tenha indicado que, dada a forma «bastante positiva» como tudo está a decorrer, possam eventualmente ser conhecidos antes da data prevista.