O primeiro-ministro britânico garantiu que é um «europeísta apaixonado», mas questionou o actual modelo social da Europa, onde existem 20 milhões de desempregados. Blair considera que é preciso renovar para dar resposta às preocupações dos europeus.
Blair discursava esta quinta-feira, em Bruxelas, perante o Parlamento Europeu, a quem apresentou as linhas gerais da presidência britânica da União Europeia, que o Reino Unido assume a 01 de Julho próximo.
Na véspera, o ainda presidente em exercício da UE, o primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker, voltou a criticar a postura britânica nas negociações fracassadas da semana passada sobre o quadro orçamental comunitário para 2007/2013.
Em resposta, às acusações de ter sido o grande responsável pelo fracasso do Conselho Europeu da semana passada, Blair negou que tenha exigido uma reforma imediata da Política Agrícola Comum durante as negociações de sexta-feira, e frisou que foi o único líder do Reino Unido a admitir colocar o "cheque britânico" sobre a mesa.
Blair questiona modelo europeu
O chefe de Governo britânico adiantou que foi também acusado de querer abandonar o modelo social europeu, e perguntou: «Mas que modelo social é este que tem 20 milhões de desempregados na Europa?»
«Acredito na Europa enquanto um projecto político. Nunca aceitaria uma Europa que fosse simplesmente um mercado económico", acrescentou Blair, que foi ainda mais longe.
«Sou um europeísta apaixonado. Sempre fui», afirmou o primeiro-ministro britânico, no único ponto do discurso em que fez uma pausa, face às reacções no hemiciclo, entre alguns risos e comentários.
Blair referiu-se ainda ao momento conturbado que a Europa atravessa, com optimismo, salientando que «em cada crise há uma oportunidade» e que a Europa tem de ter a coragem de aproveitar aquela que se lhe depara agora.
Crise de liderança política na Europa
Para o primeiro-ministro britânico, o actual clima que se vive na União Europeia não reflecte «uma crise de instituições políticas, mas de uma crise de liderança política», e tal ficou demonstrado nos «chumbos» ao Tratado Constitucional nos referendos realizados em França e na Holanda.
«Há duas explicações possíveis» para a vitória do "não", comentou Blair, indicando que uma é as pessoas terem estudado a Constituição e discordado dos artigos, o que duvida, e outra é este tratado ter-se tornado um veículo para as pessoas manifestarem o seu «profundo descontentamento» com o actual estado da Europa.
Os cidadãos europeus, adiantou Blair, estão preocupados com questões como a globalização, o emprego, as pensões e a qualidade de vida, vêem o mundo a mudar à sua volta, a nível económico e social, e a União Europeia tem de saber dar-lhes respostas.
O «crime organizado, a segurança e a imigração» são também, neste contexto, aspectos que a presidência britânica considera prioritários, a par dos desafios económicos e sociais.
O primeiro-ministro britânico advertiu também que colocar entraves a novos alargamentos não vai salvar empregos nem tão pouco vai de encontro aos ideais europeus, mas antes em direcção ao xenofobismo e nacionalismo.
A ideia mais repetida foi a necessidade de a Europa se renovar e modernizar, de modo a manter a sua posição no Mundo.