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Aberto inquérito à morte de adolescentes electrocutados

As circunstâncias da morte de dois adolescentes electrocutados, que está na origem dos distúrbios da última semana nos subúrbios de Paris, vão ser alvo de um inquérito judiciário.

O procurador da República de Bobigny, François Molins, anunciou que será aberta uma informação judiciária [fase do procedimento penal que precede o julgamento] por «não assistência a pessoas em perigo».

A cargo de um juiz de instrução, este procedimento inclui a investigação, recolha de provas, audição de testemunhas e indiciamento de suspeitos, podendo o processo ser arquivado ou a acusação formalizada e seguir para os tribunais.

Em causa está a morte a 27 de Outubro de dois adolescentes de 15 e 17 anos num transformador de electricidade em Clichy-sous-Bois, tendo um terceiro jovem de 21 anos ficado gravemente ferido com queimaduras.

O procurador revelou que as investigações já efectuadas pela polícia judiciária (PJ) confirmaram que os três jovens não eram perseguidos pela polícia, corroborando a versão oficial dos agentes da autoridade, que intervinham na sequência de um controlo de identidade.

Todavia, da audição dos agentes e das gravações das comunicações entre estes foi apurado que dois polícias indicaram ao comando terem visto dois jovens dirigir-se para as proximidades do transformador de alta-tensão, havendo o risco de aí terem entrado.

O inquérito agora aberto tem por objectivo averiguar se foi feito o necessário para garantir a segurança dos jovens, já que se sabia que o local era perigoso.

As dúvidas que persistem sobre o que terá levado os jovens a refugiarem-se naquele local não foram esclarecidas pelo terceiro jovem, Metin, que se encontra ainda internado e que se recusou a testemunhar pela segunda vez à polícia, disse Molins.

A decisão de abrir um inquérito foi comunicada pelo ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, às famílias das vítimas, que tinham anunciado a intenção de apresentar uma queixa neste mesmo sentido.

1330 polícias mobilizados contra distúrbios

A situação nos subúrbios a norte de Paris foi hoje tema de várias reuniões interministeriais na residência oficial do primeiro-ministro, no palácio de Matignon, no âmbito do «plano de acção» prometido por Dominique de Villepin para as zonas urbanas sensíveis.

Inicialmente concentrados na localidade de Clichy-sous-Bois, os distúrbios causados por bandos de jovens alastraram a uma vintena de localidades do departamento de Seine-Saint-Denis.

Segundo as informações oficiais, foram incendiados na noite passada, a sétima consecutiva de confrontos, 177 automóveis e quatro polícias, dois bombeiros e três civis foram feridos por projécteis.

A polícia registou ainda o disparo de quatro tiros reais contra as forças da autoridade na noite de quarta-feira, sinal de que os confrontos estão a agravar-se.

Desde o início dos distúrbios, na sexta-feira passada, foram interpeladas 135 pessoas, das quais 98 ficaram detidas provisoriamente.

Cerca de 1.300 agentes da autoridade estão mobilizados para esta região para tentar conter os actos de violência e vandalismo.

Redação