As primeiras páginas dos jornais de França, esta terça-feira, referem que a população está a começar a sentir medo devido à violência urbana que há 12 dias consecutivos abala o país. A imprensa mostra-se também céptica quanto ao recurso ao recolher obrigatório.
O «Le Fígaro», conotado com a direita, afirma que «a partir de agora, a França tem medo. Medo de uma escalada insurreccional que nada, depois de 12 dias, conseguiu interromper».
O jornal acrescenta ainda que «agora que as mais altas autoridades da República falaram, impõe-se acção».
O «France-Soir» escreve na manchete «Medo nas cidades». Por sua vez, o «Aujourd'hui/Le Parisien» dramatiza com o título «O estado de emergência», em referência ao recolher obrigatório, previsto numa lei de 1955.
«Villepin vai à guerra» ironiza o «Libération», conotado com a esquerda, a propósito da mesma questão que apelida de «uma panóplia legislativa utilizada durante a guerra na Argélia».
Para o jornal, o recurso ao recolher obrigatório «confirma que o reino chiraquiano é uma farsa trágica» e acentua que «se a prioridade, como é evidente, é restabelecer a autoridade do Estado, ela não pode ser conseguida a qualquer preço».
Na mesma linha, o editorial do jornal Republique des Pyrénées, afirma que o «primeiro-ministro correu o risco de agitar fantasmas perigosos ao permitir a identificação de alguns destes jovens com os 'fellaghas' argelinos».
Uma outra questão levantada pela imprensa relaciona-se com os efeitos reais do recurso ao recolher obrigatório face à vaga de violência urbana em França.
«Dominique de Villepin quis manifestamente mostrar-se apaziguador. Para dar o exemplo? Resta saber se ele vai ser seguido», comenta o «Le Dauphine Libéré».
O «Ouest-France», o jornal de maior tiragem em França, garante que «o apelo do presidente da Republica, domingo à noite, não teve o mínimo efeito».
O «Le Monde», de centro-esquerda, adianta em relação a este discurso que as «palavras vagas, pronunciadas num tom sacudido, mostraram que, se é que a magia da palavra do presidente alguma vez existiu, ela já não funciona».
Por seu lado, o jornal «Dernières Nouvelles d'Alsace» afirma que «a determinação de que o primeiro-ministro deu provas contrastou com a fraqueza da intervenção, na véspera» de Jacques Chirac.