Em Souselas e no Outão o clima é de desconfiança, depois de ser conhecido o parecer médico sobre os efeitos da queima de lixo tóxico na saúde pública.
Em Souselas e no Outão o clima é de desconfiança, depois de ser conhecido o parecer médico sobre os efeitos da queima de lixo tóxico na saúde pública. Os resíduos industriais perigosos co-incinerados são inofensivos para as populações, segundo os cientistas.
A Associação de Defesa do Ambiente de Souselas, em Coimbra, vai continuar a luta contra a co-incineração.
Joaquim Gonçalves explicou à TSF que só admite mudar de opinião depois de serem feitos os testes epidemiológicos às pessoas que vivem perto de cimenteiras.
Enquanto não for efectuada aquela investigação médica é impossível «partir de uma base sólida e definitiva». Portanto a decisão de Souselas mantém-se contra o processo.
«Pergunto: Como é possível uma comissão de médicos chegar a esta conclusão se não sabe qual é o estado actual da nossa população? »
No Outão, o Movimento de Cidadãos pela Arrábida ainda não conhece as conclusões do grupo médico, mas considera que o relatório tem um valor relativo.
Manuel Salazar, expressou a sua opinião em directo na TSF: «Sabemos pela imprensa que o grupo de trabalho médico terá decidido por maioria dizer que não há perigo para a saúde pública. Nós temos elementos suficientes para contestar o grupo de trabalho médico.»
Manuel Salazar afirma que os médicos se limitaram a desenvolver uma actividade de «gabinete». Nem sequer consultaram a situação de saúde das populações, acrescenta. «Não percebo onde é que está a fundamentação para as conclusões que tiraram. O resultado do grupo de trabalho médico não encerra conclusões definitivas.»
O ambientalista lembra que o ministro do Ambiente, José Sócrates, «não pode tomar nenhuma decisão logo na sequência do relatório do grupo de trabalho médico», porque os cientistas vão ter que o apresentar à Comissão Científica Independente, que por sua vez ainda irá passar pelo crivo da Assembleia da República, onde os deputados vão apreciar as conclusões.
Mas há mais: «O governo só poderá tomar uma decisão depois de promover um debate público. É o que resulta da lei.», acrescenta Manuel Salazar.
O Movimento da Arrábida fundamenta também a contestação no facto do Executivo de Guterres estar obrigado a seguir a lei 20/99, o que na prática não está a acontecer, alegam os ambientalistas.
«O Governo não inventariou, não caracterizou resíduos, não tem uma política concertada junto do sector industrial de reutilização e reciclagem de resíduos, não cria depósitos controlados de resíduos perigosos (...) e por isso nós temos fundamento que reafirmamos para impugnar as decisões já tomadas», acrescenta Manuel Salazar.
Existem ainda outros argumentos que têm a ver com as directivas comunitárias: «Tratando-se de um parque natural, um sítio classificado na rede Natura 2000, não pode ser ameaçado, quando mais despojado das suas características ambientais.»
O ministro do Ambiente, José Sócrates, ainda não quis fazer um comentário às conclusões do grupo de trabalho médico. Vai pronunciar-se quando tiver acesso ao relatório, mas lembrou que sempre esteve disposto a respeitar o parecer dos cientistas.