Um relatório da UNICEF divulgado hoje em Nova Iorque, indica que existe uma «tragédia de pobreza infantil» em todo o mundo. Os cuidados primários até aos três anos são a maior preocupação. Os governos não escapam às críticas.
O relatório da UNICEF traça um quadro negro para o ano que vem e afirma que a situação mundial da infância é marcada pela «tragédia» da pobreza infantil, devido aos problemas de subnutrição que afectam 177 milhões de crianças em todo o mundo.
«A pobreza infantil é perversa e imoral», afirmou a directora-executiva da UNICEF. Carol Bellamy referiu que «cada criança que a pobreza vitima, cada cérebro que afecta, representa uma gigantesca perda de capacidade humana».
O relatório sublinha a falta de cuidados a que estão expostas milhões
de crianças em todo o mundo, sobretudo nos três primeiros anos de vida, cruciais para o desenvolvimento físico e intelectual.
Para a UNICEF, a responsabilidade também é de muitos decisores que «desconhecem pura e simplesmente a importância crucial dos primeiros anos de vida». Segundo Bellamy torna-se pois necessário investir nesse aspecto: «é uma questão fundamental de boa liderança», frisou.
«Números preocupantes»
Dos seis mil milhões de habitantes do planeta, quase um terço tem menos de 15 anos e 485 milhões menos de três. A maioria destas crianças vive em países em vias de desenvolvimento.
O documento indica que 11 milhões de crianças (pouco mais do que o total da população portuguesa) morrem anualmente devido a doenças evitáveis. Existem 177 milhões de subnutridas e mais de 100
milhões nunca entraram numa escola. Segundo o mesmo relatório, uma em cada 10 crianças tem deficiências.
Nesse sentido, a responsável pela UNICEF destaca a importância de se
investir na saúde, educação, cuidados básicos e protecção das crianças. «É um imperativo moral e uma decisão importante em termos económicos», disse.
A UNICEF apela aos cidadãos, governos, agências internacionais e doadores, para que financiem os cuidados necessários à primeira infância, tarefa que exige 80 mil milhões de dólares por ano.
Crianças pobres, países pobres
Segundo a instituição, outro grave problema é o facto de essas crianças estarem actualmente sujeitos a três grandes ameaças: a pobreza, os conflitos e a SIDA.
Os números indicam ainda que 15 milhões de raparigas entre os 15 e os 19 anos são mães e que os filhos de mães analfabetas têm duas vezes mais probabilidades de morrer durante o primeiro ano de vida.
Igualmente, os filhos de mulheres maltratadas pelos companheiros têm seis vezes mais possibilidades de morrer antes dos cinco anos, do que as outras crianças.
O alerta da UNICEF termina com Bellamy a afirmar: «crianças pobres, subnutridas e fracas contribuirão para países mais pobres e impotentes».