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O «gulag» nuclear

A ameaça atómica continua, em Chernobyl, apesar do encerramento da central nuclear, previsto para hoje.

Chernobyl deixa de produzir energia nuclear mas os receios de uma fuga radioactiva não diminuem com o encerramento da central que provocou o maior desastre ambiental da Europa.

A principal ameaça da central nuclear da ucrâniana não está no reactor número 3, o único que está em funcionamento e que esta sexta feira é desligado. A principal ameaça, o perigo real está, ainda e sempre, no reactor número 4, o reactor que, em 26 de Abril de 1986, provocou a morte de 30 bombeiros e a onda radioactiva espalhou-se pela Europa Central e do Leste. Ainda hoje a radiação libertada naquele dia é a responsável por inúmeros cancros da tiróide registados na população da Ucrânia.

Sarcófago «roto»

Depois do acidente nuclear as autoridades soviéticas cobriram o reactor 4 com areia, mármore moído, chumbo e cimento. Para esta operação de engenharia civil foram utilizados complicados meios técnicos, desde gruas gigantes controladas á distancia até helicópteros para injectar o cimento no sarcófago.

Assim se construiu o mais singular dos cemitérios nucleares. Não se trata de um armazenamento de resíduos mas de material radioactivo em estado puro. Desde há 14 anos que estão guardados neste sarcófago cerca de 150 toneladas de combustível atómico e também pó e outras substancias radioactivas.

À medida que os sensores de radiação se aproximam das paredes de cimento do sarcófago aumentam os valores e bastava entrar para lá dos muros para ter uma morte certa em poucos segundos. O certo é que a construção realizada em 1986 para conter a desgraça está agora cheia de fissuras e a precisar de obras.

Mas apesar dos riscos os habitantes das redondezas da Central Nuclear insistem em entrar na zona de exclusão. Eles passam por um abertura no arame farpado e apanham morangos e cogumelos que depois vendem nos mercados de Kiev, a capital da Ucrânia.

Redação