Três mil garrafas de «Côa Lorosae» (vinho tinto de 1994) estarão nas mesas das tropas portuguesas e de Xanana Gusmão neste Natal. A oferta é da Adega Cooperativa de Vila Nova de Foz Côa.
«Côa Lorosae» é o rótulo de vinho tinto de 1994 que no Natal deste ano vai estar em Timor Lorosae na mesa das tropas portuguesas e do Presidente do CNRT, Xanana Gusmão, oferecido pela Adega Cooperativa de Vila Nova de Foz Côa (Guarda).
O «convite» é extensivo à Embaixadora de Portugal na Indonésia, Ana Gomes, às organizações e instituições de apoio humanitário e social, bombeiros, enfermeiros, arquitectos, professores, engenheiros, religiosos e técnicos portugueses actualmente a trabalhar em Timor Lorosae.
O Presidente da Adega fozcoense, Abílio Pereira, afirmou à agência Lusa que um lote de três mil garrafas parte hoje para aquele território sob administração da ONU, conjuntamente com uma delegação comercial da Adega que pretende investir em Díli perto de 100 mil contos na construção de um posto e armazém de vinhos de Foz Côa.
O rótulo «Côa Lorosae» foi concebido por João Tolentino, a partir de uma simbologia especial: uma cena de caça estilizada, composta por gravuras de animais do Côa e pinturas de caçadores das grutas de Ilikerekere, Tatula, na Ponta Leste de Timor.
Tolentino é casado com Fátima Guterres, activista natural de Timor-Leste que em Foz Côa expôs recentemente uma mostra de bordado sobre motivos artísticos timorenses com base em antigas pinturas de caçadores em grutas de Timor fotografadas pelo poeta Rui Cinatti.
A artista fugiu em 7 de Dezembro de 1975 para as montanhas na sequência da invasão indonésia de Dili, integrando então as forças da resistência no combate contra os ocupantes.
Foi responsável da Organização Popular da Mulher Timorense (OPMT) e secretária do Comando das Operações das FALINTIL, tendo sido capturada em 1979 pelos militares da Indonésia quando se encontrava em acções de combate, sujeita à prisão e tortura.
Em 1987, veio residir em Portugal com a família após intervenção da Cruz Vermelha Internacional.
«Uma homenagem a Timor»
Segundo Abílio Pereira, trata-se de «uma homenagem aos homens do Vale do Côa e de Timor Lorosae, uns porque se bateram pela salvaguarda do seu património rupestre, memórias indeléveis dos seus mais remotos antepassados e outros porque, além da defesa da sua cultura e identidade, ainda por cima tiveram de se haver com a dura luta da sua própria sobrevivência como povo e nação».
A iniciativa da Adega Cooperativa de Vila Nova de Foz Côa tem o apoio da Associação dos Ex-Presos Politicos de Timor-Leste radicados em Portugal.
O Presidente da adega de Foz Côa acrescentou que a partir de 20 de Dezembro vão ser encetados contactos para a promoção do vinho fozcoense na Indonésia, alem de que «o investimento prioritário vai ser em Timor Lorosae».
A propósito, Fátima Guterres afirmou à agência Lusa que o vinho português é muito apreciado em Timor apesar de «ser coisa rara sobretudo após 1975, ano da invasão indonésia» e que muitos naturais ainda guardam garrafas do vinho oriundo de Portugal guardado desde aquele ano «como verdadeira relíquia».