Um teste feito aos alunos do 1º ano de vários cursos de Engenharia e Gestão da Escola Superior de Educação e também do Instituto Superior Técnico de Tecnologia e Gestão deu resultados bastante preocupantes.
Para melhor aprofundar este tema, a TSF resolveu deslocar-se a Leiria, onde um grupo de professores do ensino superior e do ensino básico detectaram um grave problema na transição dos alunos do 12º ano para o 1º ano da universidade.
Um teste feito aos alunos do 1º ano de vários cursos de Engenharia e Gestão da Escola Superior de Educação e também do Instituto Superior Técnico de Tecnologia e Gestão deu resultados bastante preocupantes.
Dos 178 alunos que fizeram o teste, apenas 43 conseguiram obter uma nota positiva. Foram 135 o número de alunos que reprovaram no exame o que mostra que o insucesso não poderia ter sido mais expressivo.
No 12º ano tinham notas razoáveis a Matemática, no 1º ano do ensino superior os mesmos alunos não conseguiam passar da negativa. Odete João, coordenadora do Centro da Área Educativa de Leiria, considera que isso mostra que não há continuidade entre os ensinos secundário e superior.
«Todo o programa do ensino secundário está virado para a compreensão, para a análise, privilegia o raciocínio e depois, no 1º ano da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, procura-se o cálculo, as destrezas a nível numérico (...) competências para as quais os alunos não estão preparados», explicou à TSF.
O que é um facto é que, no liceu, os alunos podiam usar a calculadora e na universidade as contas já têm obrigatoriamente de ser feitas de cabeça. Acontece, que essas exigências não são o reflexo da vida prática do dia-a-dia.
«Hoje existem máquinas e, de facto, não é necessário termos alunos que passam horas a fazer contas». Para Odete João, o indispensável é que «os alunos, ao nível das estimativas, saibam prever resultados, e não aceitem resultados com a mesma ligeireza, estando eles perfeitamente correctos ou perfeitamente incorrectos». «Se calhar é ao nível das estimativas que não foram desenvolvidas competências», conclui.
Mas Odete João propõe uma saída: «Uma espécie de ano zero, em que os alunos iam ser treinados de uma forma mais intensiva num conjunto de competências básicas (...) essenciais para a entrada nos cursos desta escola».
A coordenadora defende ainda que se deve dar mais importância à relação entre aluno e professor, principalmente na disciplina de Matemática.
«Um aluno que não goste do professor de Português, continua a ler, continua a desenvolver as suas competências na área do Português. Um aluno que não goste de Matemática, se não tiver um professor que lhe desperte o interesse, que o motive, que esteja com ele em todos os momentos, de facto essa será sempre uma disciplina de insucesso», rematou.
A aversão à Matemática é uma questão cultural, mas Odete João acredita que a reforma educativa em curso pode ajudar a disciplina a deixar de ser a eterna mal-amada. E ainda há muito a fazer.
Um dos caminhos pode passar pela componente lúdica da aprendizagem, se essa for desenvolvida muito cedo. Afinal, os jogos sempre foram um bom método de aprendizagem e a brincar, a brincar ... sempre se vai aprendendo.