Em Portugal, quase 40 por cento das pessoas sofrem de dor crónica, mas mesmo assim, evita-se o consumo de opióides. A má formação dos profissionais de saúde e a falta de informação do público agravam este problema.
Trinta a quarenta por cento da população portuguesa sofre de dor crónica. «A dor é um problema real e já é possível evidenciar que estes doentes são mais numerosos que os diabéticos ou os hipertensos», referiu Isabel Galriça Neto, médica de família no Centro de Saúde de Odivelas.
A falta de formação dos técnicos de saúde, tanto dos médicos, como dos enfermeiros e técnicos, é uma das grandes dificuldades associadas ao problema da dor. Isabel Neto considera que esses especialistas «se sentem desarmados para lutar contra a dor e transmitem depois à população a ideia que não há nada a fazer».
«É também necessário informar o grande público que a dor não é uma inevitabilidade e que é possível controlá-la na maioria dos casos com farmácos simples», defende Isabel Neto.
O medo dos opióides
Em Portugal, ao contrário dos outros países da Europa, ainda se partilha a ideia de «medo dos opióides». Apesar da eficácia destes fármacos estar comprovada e do perigo da dependência não existir, «continua-se a vender os opióides como um medicamento muito perigoso, que vai apressar a morte», explica a especialista.
«É preciso alertar que não há dependência e que os doentes podem consumir fármacos opióides», considerou.
Desta forma, e com a ajuda dos opióides, cerca de 80 por cento dos casos de doentes de dor crónica podem ser controlados com métodos simples, como o simples apoio domiciliário. Segundo Isabel Neto, existem unidades de dor que «facilitam o controlo e tratamento com métodos mais agressivos».
Contudo, a especialista sublinha que é preciso existir vontade política, nomeadamente no sentido de facilitar o acesso a esses fármacos opióides. Isto, porque «os doentes com dor crónica não têm acesso a comparticipações como têm, por exemplo, os diabéticos, os asmáticos ou os epilépticos».