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Carne pode faltar no fim do ano em alguns talhos

Três matadouros do Vale do Tejo estiveram hoje parados devido ao fecho de uma empresa de Coruche que faz o tratamento das matérias susceptíveis de transmitir BSE. A carne pode faltar em alguns talhos no fim do ano, «por culpa dos ministérios do Ambiente e da Agricultura», diz a Câmara de Coruche.

Os matadouros Fricarnes (Mem Martins) e Santacarnes (Santarém) estiveram hoje sem abater gado bovino em virtude do encerramento da fábrica ITS Marques, empresa responsável pelo tratamento dos materiais de risco susceptíveis de transmitir BSE.

As duas unidades de abate reconhecem que o abastecimento de carne ao mercado pode sofrer atrasos «de poucos dias», ficando «alguns talhos» sem carne para vender.

A ITS Marques é uma das três unidades no país a fazer o tratamento das matérias de risco específico (MRE), designadamente cabeças, vísceras, sangue, bandulhos e intestinos dos animais.

A empresa, sediada em Coruche, encerrou na sexta-feira por ordem judicial, após uma providência cautelar interposta pela Câmara Municipal de Coruche (CMC), que se queixou de poluição e de não ter sido elaborado um estudo de impacto ambiental aquando da sua construção.

Morte adiada para 800 animais

Com o encerramento da ITS Marques, os matadouros que com ela trabalham deixaram de poder enviar para tratamento as MRE, facto que obrigou ao cancelamento de alguns abates, uma vez que os matadouros não podem ter as matérias perigosas ao ar livre na sua posse durante mais de 24 horas.

Segundo a TSF online apurou junto da administração da Santacarnes, a empresa ficou, hoje, com cerca de 300 animais por abater. Vital Rosa, explicou que a situação ficou normalizada cerca das 16:00, depois de uma ordem do Ministério do Ambiente para que as MRE sejam tratadas na Sebol, uma unidade em Santo Antão do Tojal, Loures.

O administrador da empresa afirmou que em dois casos, houve animais que foram transferidos para outra unidade de abate. Disse ainda não poder quantificar os prejuízos causados pela paragem dos abates.

Em Mem Martins, a Fricarnes, também cancelou os abates previstos para hoje. Jorge Brandão, director da fábrica, disse à TSF online que deixou de abater «180 cabeças de gado bovino e 350 porcos». Para a empresa de Sintra, «a entrega de carne aos revendedores pode ficar atrasada um dia».

Mais fácil parece ter sido a actividade de outro matadouro. A Ribacarne diz não ter cancelado qualquer abate em virtude de ter uma unidade de tratamento de sub-produtos de baixo risco. No entanto, um dos seus responsáveis, José Filipe, afirmou que «a capacidade de armazenagem dos materiais perigosos nas câmaras frigoríficas não dá para muito tempo».

Segundo a TSF online apurou junto de um produtor que pediu o anonimato, desde a passada sexta-feira que cerca de 300 toneladas estavam à espera de ser abatidas.

Coruche critica Governo

Os matadouros foram, assim apanhados no meio de uma polémica antiga entre a Câmara de Coruche e a ITS Marques.

O presidente da autarquia, Manuel Brandão, mostrou-se satisfeito pela vitória conseguida em tribunal, mas acusou o Ministério do Ambiente de ter colaborado numa ilegalidade «ao emitir um parecer dizendo que não era necessário um estudo de impacto ambiental» aquando da construção da empresa.

O autarca acusa também o Ministério da Agricultura de ser o responsável pela paragem dos abates por, «com a pressa de ver a fábrica a laborar, ter permitido e facilitado tudo».

Os ministérios ainda não comentaram as acusações de Manuel Brandão