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Ainda existe o Pai Natal?

O consumo tomou conta do Natal. As crianças de hoje conhecem melhor os brinquedos que estão em voga do que o São Nicolau ou a sua história. Já não esperam ver as renas e o Pai Natal, apenas anseiam por abrir as prendas.

Querem tudo. A última Barbie com todos os acessórios, um jogo para PC, para a Playsation II, o carro do Harry Potter, o FIFA 2003, uma trotinete a motor, o skate que viram naquela loja. Já o Pai Natal, esse só conta porque o comércio insiste em usar a sua imagem.

Com sete, oito anos, afirmam a pés juntos que o Pai Natal é a fingir, muito em parte porque os pais, pressionados pelos horários de trabalho e pelo «stress» do dia-a-dia, já nem se importam de ir comprar os presentes com eles. Deixam-nos por ali, à vista dos pequenos, e muitos nem se mascaram de Pai Natal.

O Francisco, bem como grande parte das crianças da sua classe do Externato Grão Vasco, em Benfica, já não liga a fantasias, a ilusões. «O Pai Natal não existe», confirmou João Maria, de 8 anos, justificando que um dia entrou no quarto e o tio lhe disse que era o Pai Natal.

«O Pai Natal é São Nicolau»

Porém, há quem ainda acredite no Pai Natal. No Jardim de Infância Número 1, em Coimbra, os mais pequeninos, dos três aos cinco anos, sabem quem é São Nicolau e até já estiveram com ele. «Vi na escola. Trouxe jogos para dar aos meninos, para levarem para casa», contou Matilde.

No dia 6 de Dezembro, um actor mascarou-se para fazer uma surpresa às crianças. Chegou ao jardim de infância a puxar um carro de madeira, com um saco às costas e prendas para dar. Falou com os meninos e ouviu o recado que eles tinham para lhe dar.

«O Pai Natal trazia um saco às costas. Ajudámos a puxar o carrinho e depois sentou-se numa cadeira especial. Ele estava cansado, porque já é velhinho», acrescentou o Rui. «O Pai Natal é vermelho e branco. É o São Nicolau», explicou o Pedro.

A magia da infância

A educadora Maria José salienta a importância que esse momento teve para os miúdos, sobretudo daquela idade. «Foi um momento interessante, porque as crianças participaram na ajuda do velhinho, do Pai Natal. Foi mágico», considerou, frisando que «as crianças devem viver a infância e a sua fantasia».

«E sobre o Pai Natal, nós levámos os meninos neste Jardim de Infância a perceberem que tinham de dar aos outros, que tinham de ajudar o Pai Natal a dar aos outros», explicou Maria José.

«Deve-se desenvolver essa fantasia e o Pai Natal deve pôr-se no lugar. Não é o da Coca-Cola, é realmente São Nicolau, que tem uma história, uma história de dádiva aos outros, porque ele dava aos pobres e penso que é pena não haver mais essa magia», lamentou.

«Há muitos pais que vão comprar as prendas com os meninos, eles escolhem e perde-se essa fantasia, essa ilusão. Acho que as crianças devem ser crianças, até nós devíamos continuar crianças», argumentou Maria José, frisando que «sem valores não podemos educar».

Redação